Page 74 - Comunicar na Republica

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I República – Liberdade em ação
Os postos hélio-telegráficos situavam-se nos pontos
estratégicos no que respeita à distância e visibilidade
para a eficaz transmissão, receção e retransmissão
dos sinais. Outro fator de localização destes postos
era a relacionada com a administração e defesa do
território.
Cerca de 1930 e anos seguintes, possivelmente com
a concorrência da radiotelegrafia, o serviço heliográ-
fico foi decaindo mas não de forma repentina. Com
efeito a circular n.º 511/RT de 11-03-1933 relativa ao
Regimento de Telegrafistas ainda determinava que
a Estação Heliográfica do Quartel dos Quatro Ca-
minhos do CEL – Campo Entrincheirado de Lisboa,
enviasse todos os dias, às 11 horas da manhã, um te-
legrama de instrução à Estação da Penha de França
que, por sua vez, o retransmitiria a Santarém, Tancos,
Abrantes, Portalegre, Forte da Graça, Praça de Elvas
e Palmela e esta localidade o retransmitiria a Setúbal
e Vendas Novas.
O equipamento militar de comunicações e armamen-
to era construído nas OGME – Oficinas Gerais de
Material de Engenharia do Exército, no atual espaço
reservado para o futuro Museu dos Coches, em Be-
lém.
Com a necessidade crescen-
te de fabrico de materiais li-
gados ao Exército e à guerra,
estas oficinas expandiram-
-se para Braço de Prata onde
foi instalada a FMBP – Fábri-
ca Militar de Braço de Prata,
Poço do Bispo, posterior-
mente designada por FBP –
Fábrica de Braço de Prata.
A FBP, hoje centro de forma-
ção, artes e animação data
de 1908, desenvolveu as suas
A intenção era tornar o telégrafo de simples em du-
plo, aumentando a capacidade de transmissão e de
receção, por um lado e, por outro lado, aperfeiçoar a
regulação da velocidade do seu mecanismo de modo
a optimizar a qualidade de impressão da escrita.
Princípio do aparelho Hughes
Existe na Fundação Portuguesa das Comunicações
um livro manuscrito sobre o princípio do aparelho.
O longo texto e desenhos são uma verdadeira obra
de arte onde são propostas várias inovações, entre as
quais a que deu origem ao regulador DMO (Doignon,
Mendonça e Oliveira) em que estiveram oficialmen-
te envolvidos o engenheiro Francisco Mendonça e o
inspetor Cassiano de Oliveira das Oficinas Gerais dos
CTT e a casa L. Doignon de Paris.
Tudo parece indicar que António dos Santos foi o ini-
ciador da inovação do DMO aplicada ao Hughes e
mais tarde ao Baudot, isto é, à primeira telegrafia de
transmissão e receção simultânea.
A rede heliográfica foi organizada e desenvolvida
com sucesso tendo funcionado com uma cobertura
em praticamente todo o País, dadas as vantagens da
simplicidade dos equipamentos e o alcance atingido
pelos sinais, chegando a ser avistados em lances de
mais de 60 quilómetros.
Daí este serviço ter sido preferido em relação aos
sinais homográficos e aos tradicionais fachos, cujo
alcance rondava apenas entre os 3 e os 10 km apro-
ximadamente.
Além dos sistemas telegráficos por fios, Portugal
contava no tempo da I República com duas outras
redes que cobriam quase todo o País, sendo estas do
foro militar, isto é, uma rede heliográfica que, como o
nome indica, funcionava com o aproveitamento dos
raios solares.
Desenho/projeto para o
telégrafo Hughes do livro de
António dos Santos.
A rede heliográfica e as oficinas de equipamentos de
telecomunicações.
FPC