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I República – Liberdade em ação
gas negociações com os governos portugueses irão
saldar-se na criação da Companhia Portuguesa Rádio
Marconi, em julho de 1925, que passa, desde 1926, a
assegurar as ligações intercontinentais do nosso país
por substituição progressiva dos cabos submarinos.
A rede de cabos submarinos telegráficos, que vinha
assegurando desde 1870 (Carcavelos) essas ligações,
é crucial no período da Grande Guerra para o bom
êxito dos esforços aliados, ocorrendo o corte dos ca-
bos alemães (da Deutsche Atläntische Gesellschaft)
em 1914-1915 perto da cidade da Horta. A Horta
como centro estratégico de amarração conheceu,
neste período, o auge da sua atividade que só come-
çará a decrescer a partir de 1931.
O telefone, objeto de luxo, vai-se democratizando a
pouco e pouco, aumentando substancialmente o nú-
mero de assinantes nas principais cidades, Lisboa e
Porto.
A Anglo-Portuguese Telephone Company (APT), a
concessionária para o serviço telefónico destas duas
cidades e arredores, vai acompanhando a mudança
de costumes, cresce e inaugura a Central Telefónica
da Trindade em 1925. Seguindo, também, os novos
hábitos de veraneio e vilegiatura cria pequenas cen-
trais para assegurar o serviço telefónico em estâncias
balneares próximas de Lisboa.
A Administração-geral dos Correios, Telégrafos e
Telefones conhece, após a grande reestruturação de
1911, uma nova organização dos serviços, em 1919,
que irá constituir a base orgânica da instituição nas
décadas seguintes. O serviço de correios, testado
no período da Grande Guerra pelo Serviço Postal
de Campanha (SPC) do CEP, foi capaz de incorporar
esta experiência-limite que chegou a movimentar 33
milhões de objetos postais, entre cartas e encomen-
das entre 1917 e 1919, na nova conceção dos serviços.
Quanto ao telégrafo, tecnologia ainda dominante, é
atualizado com a aquisição de telégrafos Baudot, em
1921, com os melhoramentos do regulador DMO, em
parte de invenção portuguesa.
As diligências de aproximação a Espanha a nível da
comunicação telefónica (1919) pela crescente, embora
tímida, expansão da rede da Administração-geral, cria
as bases para o estabelecimento da primeira ligação
telefónica Lisboa-Madrid que irá ter lugar em 1928.
Os primórdios da aviação em Portugal situam-se,
também, nesta época, pontuados pelas épicas traves-
sias de Gago Coutinho e Sacadura Cabral (Lisboa-Rio
de janeiro) em 1922 e de Brito Paes e Sarmento de
Beires (Vila Nova de Milfontes-Macau) em 1924.
Quase em simultâneo o primeiro encaminhamento
aéreo de correspondências, Lisboa-Madrid-Bordéus,
tem lugar a 23 de maio de 1923.
A criação e autonomização administrativa e finan-
ceira da Administração-geral dos Correios e Telégra-
fos, as leis de separação do Estado e da Igreja, do
divórcio, da jornada de oito horas de trabalho, da
instituição do seguro social obrigatório e criação do
respetivo Instituto de Previdência, do direito à gre-
ve, da proteção dos menores em ambiente oficinal, o
conjunto de leis relativas à instrução pública, ref letem
algumas das principais medidas levadas a cabo no
período da República.
Apesar das grandes dificuldades económicas, her-
dadas, em parte, da Monarquia e agudizadas pela
Grande Guerra, da instabilidade política, dos surtos
grevistas, dos açambarcamentos, da fuga de capitais,
das epidemias, a sociedade portuguesa empreendeu
e foi capaz de concretizar alguns avanços.
Estão neste caso as iniciativas pioneiras no campo da
telegrafia sem fios (TSF) que Gago Coutinho e Vic-
tor Sepúlveda tinham começado antes de 1910 e que
vêm a culminar com a abertura pela Armada Portu-
guesa, em 1913, do serviço público móvel marítimo
no posto da Casa da Balança, no Arsenal da Marinha.
À volta da TSF, aliás, há todo um conjunto de fac-
tos inovadores que irão marcar de forma indelével
as décadas seguintes: com as primeiras experiências
a realizarem-se em 1909 assiste-se a uma cobertu-
ra paulatina do território continental, à ligação às
ilhas da Madeira e dos Açores (quer pelos serviços
radiotelegráficos da Armada, quer pelos serviços da
Administração-geral dos Correios e Telégrafos), ao
surgimento do radioamadorismo que promoveu as
primeiras emissões de radiodifusão em onda curta e
que atinge a formalização da Rede de Emissores Por-
tugueses em 1926 (instituição que subsiste até hoje),
à transmissão pela Armada da informação meteoro-
lógica a partir do posto de Monsanto, com início em
1923.
A TSF, de facto, acompanhou sempre de perto as vi-
cissitudes do período republicano: foi utilizada pelo
Corpo Expedicionário Português (CEP), com equipa-
mento inglês, na Flandres, durante a Grande Guerra;
foi através do posto de Monsanto que o País teve co-
nhecimento da assinatura do Armistício em novem-
bro de 1918; a ela recorreram as unidades militares
defensoras da República durante a revolta monár-
quica (1918-1919) para jugularem a insurreição; nas
greves telégrafo-postais de 1917 e 1920 os postos de
TSF da Armada serviram para suprir a ausência de
comunicações por correio e telégrafo; finalmente, foi
usada pelos revoltosos no levantamento militar do 28
de maio que ditou o seu fim.
As duas visitas de Guglielmo Marconi, o inventor da
TSF, a Portugal, em 1912 e 1920, incluindo uma pas-
sagem pela cidade da Horta em 1922, e as suas lon-