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I República – Liberdade em ação
O seu ativismo levou à criação da Liga Republicana
das Mulheres Portuguesas. Colaborou com Afonso
Costa na criação da Lei do Divórcio. Defendeu até
à exaustão que as mulheres não deviam ser meras
peças decorativas e que a educação era o «passo de-
finitivo para a libertação feminina». Esta mulher no-
tável é considerada a fundadora da literatura infantil
em Portugal. Escreveu romances, novelas e peças de
teatro.
Nos anos 10, que começam com a comemoração do
centenário de Alexandre Herculano, foram organiza-
das «festas cívicas» com o apoio dos republicanos.
Ramalho Ortigão, combatente do integralismo lusita-
no, evocando os tempos de íntima colaboração com
Eça de Queirós, publica as
Últimas Farpas
em 1916.
Nesta época, vários são os escritores que vão alimen-
tando os gostos da sociedade portuguesa; Guerra
Junqueiro, Latino Coelho, Teixeira de Pascoais, são
alguns daqueles que hesitam entre um saudosismo
passadista, um limbo, ou um (in)visionado sonho de
mudança.
Em 1913, em Lisboa, constituíu-se o núcleo do grupo
modernista. O modernismo é um movimento estéti-
co, onde a literatura aparece associada às artes plásti-
cas e é, por elas, simultaneamente, inf luenciada. Este
movimento foi empreendido e desenvolvido, desde
os finais do século XIX, por Fernando Pessoa, Alma-
da Negreiros e Mário de Sá-Carneiro.
Nesta década, os cafés são ponto de encontro para
tertúlias culturais e artísticas. O «Martinho da Arca-
da» viu reunir, nas suas mesas, quase toda a geração
da revista
Orpheu
; Almada Negreiros, Santa Rita Pin-
tor e Pessoa faziam deste espaço a sua assoalhada
preferida.
Em 1914, os jovens modernistas entusiasmam-se pe-
las novas ideias, oriundas de Paris; as ideias novas de
Sá-Carneiro e Santa Rita Pintor – o futurista – asso-
ciam-se ao projeto de Luís da Silva Ramos (Luís de
Montalvor) e, em 1915, lançam uma revista luso-bra-
sileira,
Orpheu
. Dela saíram apenas dois números, em
1915, que incluíam como colaboradores: Montalvor,
Pessoa, Almada, Cortes Rodrigues, Alfredo Guisado,
os brasileiros Ronald Carvalho e Eduardo Guimarães,
e até o heterónimo pessoano Álvaro de Campos.
Os dois números da revista alcançaram o fim propos-
to: escandalizar o burguês, irritar.... Foram troçados
e trucidados pela imprensa e a empresa acabou por
ruir economicamente.
Em Lisboa, Almada Negreiros, Santa Rita Pintor e
Pessoa reuniam-se com frequência, nas mesas e es-
planadas de «A Brasileira do Chiado» e no «Café Cen-
tral».
blica portuguesa, cujos prenúncios e efeitos se ref le-
tem facilmente na atividade literária.
Lisboa, no princípio de 1908, era uma cidade agitada,
onde os boatos se multiplicavam e as incertezas cres-
ciam. O povo passava fome, andava no ar uma gran-
de tensão. Vários são os escritores que se manifes-
tam contra a Monarquia. Entre outros, há a salientar
Guerra Junqueiro, Gomes Leal, panf letário, Aquilino
Ribeiro, que teve de se evadir, e Cesário Verde, que,
além de expressar o seu «Sentimento de um Ociden-
tal», pinta em verso, por palavras e sinais, o fim da
Monarquia: «Que hão-de acabar os bárbaros reais;
/E os povos humilhados, pela noite,/Para a vingança
aguçam os punhais.»
«A 28 de Janeiro de 1908, falhou uma tentativa de
derrube do regime, mas apesar de ter sido promul-
gado um decreto que previa a deportação imediata
para terras ultramarinas de quem fosse conspirador
do regime, no primeiro sábado, e primeiro dia do mês
de Fevereiro, gritava-se em Lisboa “Mataram a Fa-
mília Real” “Mataram o rei e o príncipe real”» (Letria,
2010).
Dois anos depois proclama-se a República.
A literatura na I República, 1910-1926
No fim do século XIX e nas primeiras décadas do
século XX surgiu um intenso movimento literário
nacionalista. A submissão a modelos franceses, a
partilha de África, os desgostos do Ultimato, as espe-
ranças da burguesia comercial nas riquezas ultrama-
rinas agitaram o peito de muita gente que não queria
esquecer o que Portugal fora no passado. Mas, simul-
taneamente, e numa outra linha, a década de 1910 já
vinha a ser registada por grandes da literatura como
Ramalho Ortigão, Jaime Cortesão, Guerra Junqueiro,
Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. Mário de
Sá-Carneiro, juntamente com Jaime Cortesão, lança
em 1910 a revista
Águia
.
Não é por acaso que Pessoa e Sá-Carneiro colabo-
ram na
Águia
, órgão do saudosismo. Neste órgão vão
apresentar opiniões, absolutamente opositoras às
ideias de então, já que estavam desejosos de «impri-
mir ao ambiente intelectual português o tom europeu,
audaz e requintado, que faltava à poesia saudosista»
alimentada por João de Deus, Teixeira de Pascoais e
outros. Na
Águia
foram publicados, pela primeira vez,
os ensaios de Pessoa.
Num processo similar, uns anos atrás, Ana de Cas-
tro Osório, pioneira na luta pela igualdade de direitos,
escreveu, em 1905,
Mulheres Portuguesas
o primeiro
manifesto feminista português.
FPC