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Da Revolução de Abril à Democracia
tais e, por isso, postais, envelopes, selos ou carimbos
postais são alguns dos suportes em que é possível a
expressão desta arte. Os artistas de
mail-art
utilizam
principalmente técnicas como colagens, fotos, escri-
ta, pintura ou arte digital. A única limitação real à uti-
lização de diferentes técnicas e suportes é a possibili-
dade de envio dos trabalhos pelos serviços postais.»
(imagem 14)
. Não podemos ignorar nesta exposição
as peças de Cruzeiro Seixas para Mário Cesariny, de
e mulheres do outro convergem ao aproximarem-se
do
guichet
do correio para enviarem as suas cartas.
(...) Através da montagem do díptico, o acto solitário
duplica-se e a confrontação dos sujeitos suscita a fic-
ção de um encontro e a sua fatal rutura amorosa. (...)
A partir do meio audiovisual do vídeo, Filipa César
expõe a atual hegemonia da imagem sobre o texto.
Tecnicamente, a escrita e a voz são substituídas pela
imagem e pelo tom de vídeo.»
(imagem 13)
.
Imagem 14. Objetos de arte postal de Emerenciano e outros artistas, 2009.
«Em Trânsito»
António Areal, Carlos Calvet, Cruzeiro Seixas, Má-
rio Cesariny, Leal do Zêzere, Ana Hatherly, António
Olaio e Emerenciano são apenas oito dos oitenta ar-
tistas nacionais e estrangeiros representados nesta
exposição dedicada à arte postal, comissariada por
Carlos Barroco, também artista com obras apresen-
tadas.
A arte postal ou
mail art
teve origem em Nova Iorque
em meados do século XX pela mão de alguns artis-
tas do grupo Fluxus. A atividade artística deste gru-
po caracterizou-se pela criação de
happenings
,
events
e
activites
, intervindo e criando situações fora do seu
contexto normal. Esta atitude, considerada por mui-
tos revolucionária, exerceu uma enorme inf luência na
arte concetual, na videoarte, nos livros de artista, nos
happenings
e na arte postal.
Segundo o comissário da exposição, a arte postal
«tem como veículo de transmissão os serviços pos-
1957, e, de 1961, um envelope desenhado de João
Rodrigues, para Cruzeiro Seixas. Mas a maioria das
obras foram realizadas e circuladas nos anos 80 e 90
do século XX, sabendo que Seixas e Cesariny, inicial-
mente adeptos da vanguarda modernista neo-realista
dos anos 40, evoluíram, em finais dessa década, ao
lado de Vespeira, Carlos Calvet, Lemos, Eurico Gon-
çalves e António Areal, para o surrealismo, inovador
no plano político e estético.
Os desenhos de Artur do Cruzeiro Seixas são de exe-
cução minuciosa e nos variados modos explora ima-
gens visuais de um mundo onírico que abarca uma
vasta gama de questões e atitudes fundamentais pe-
rante o mundo.
Ernesto de Melo e Castro (poeta e ensaísta, 1932) es-
creveu no catálogo da exposição: «mas se o correio
para ser correio (e não “correia” ou arma de punição)
não deve interferir nas mensagens que transporta,
as mensagens, essas, podem e devem interferir na