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Da Revolução de Abril à Democracia
1942; vive e trabalha em Nova Iorque)». De acordo
com as características da arte contemporânea por-
tuguesa a exposição «Por Entre as Linhas» apresen-
ta um conjunto de obras pautadas pela pluralidade
expressiva, espírito de experimentação e uma cria-
tividade facilitada, em certos casos, pelas inovações
tecnológicas. Por necessidade de síntese escolhemos
apenas três das vinte e três obras que constituem a
exposição.
Fernanda Fragateiro criou duas instalações sobre
o conceito de «por entre as linhas» tomando como
base de trabalho os «acervos» de materiais desconti-
nuados do património de comunicações da Fundação
Portuguesa das Comunicações e da retrosaria Casa
Tavares & Tavares. Segundo Isabel Carlos, «
Não Li-
gar #1
poderia, assim, ser tanto uma tela como um
detalhe de uma fachada de um edifício, mas é uma
escultura... que resulta do acto corporal sucessiva-
mente repetido de unir dois pontos, no que poderá
ser visto quase como uma coreografia obsessiva e
circular, mais precisamente duas barras verticais de
aço inox que ficam ligadas através da linha de seda
física e táctil. (...) a obra possui uma exigência laboral
e conceptual ao redimir do esquecimento os restos
de linhas de uma retrosaria antiga e transformá-las
em objecto de desejo e contemplação, em obra de
arte. (...) Fernanda Fragateiro cruza nestas obras, ou
talvez melhor, une (...) Modernismo e Feminismo.»
(imagens 10 e 11)
The Red Phone
, de Luísa Cunha, é uma instalação so-
nora. A seu propósito Nuno Crespo (crítico de arte e
ensaísta) escreveu: «a esta voz corresponde a possi-
bilidade de num mundo em que muito pouco se pode
dizer o mais decisivo fica não-dito, nas palavras que
se subentendem mas não são proferidas.
The Red Pho-
ne
vive no intervalo “entre” aquilo que se diz e o que
verdadeiramente se quer dizer: é esta a sua condi-
ção.»
(imagem 12)
.
Por seu lado, Filipa César realizou para o efeito o vídeo
Letters
(2000) que, segundo as palavras de Paz Aburto
Guevara (curadora de videoarte), «constrói um díptico
da estação dos correios. O vídeo consiste na união de
duas cenas em forma de espelho. Homens de um lado
«Por Entre as Linhas»
Esta exposição, comemorativa dos dez anos da Fun-
dação Portuguesa das Comunicações, reuniu dez artis-
tas contemporâneos – Vasco Araújo, Pedro Barateiro,
Filipa César, Luisa Cunha, Fernanda Fragateiro, An-
dré Guedes, Ana Jotta, António Olaio, Miguel Palma,
Fernando José Pereira – para criarem obras de raiz
e específicas para a exposição a partir do acervo do
Museu (exposto ou em reserva), explorando a relação
entre a arte e a tecnologia com a comunicação, tendo
como referência a proposta curatorial de Isabel Carlos.
A comissária da exposição descreve-a assim: «“Por
Entre as Linhas” é então uma exposição em que se
pretende falar sobre comunicação, mas também so-
bre arte, mas consciente dos limites e das armadilhas
que tal tarefa pode envolver. (...) A palavra “linha” é
comum tanto ao vocabulário artístico – desenhar ou
riscar uma linha num papel – como ao vocabulário
da escrita e da leitura – ler por entre as linhas – bem
como ao vocabulário das telecomunicações: linhas te-
lefónicas, ligações, cabos, trabalhar ou estar em linha».
Mas a opção por este título neste contexto é inten-
cional e assumidamente uma homenagem a um dos
artistas atuais que levou mais longe a ref lexão sobre
arte e comunicação: Antoni Montadas (Barcelona,
Imagem 11. «Não ligar#2», Fernanda Fragateiro, 2007.
Imagem 12. Instalação sonora «The Red Phone»,
Luísa Cunha, 2007.
Imagem 13. Video «Letters», Filipa César, 2000.