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Ditadura Militar e Estado Novo – Liberdade adiada
único para o ressurgimento da pátria, claramente de
intuito propagandístico, que só encontra igual com a
emissão do desenho «Legião» de autoria de António
Lima
(imagem 4)
. O conteúdo da instituição com ca-
ráter fascista está em harmonia com a proposta gráfi-
ca que se assemelha na escolha dos carateres góticos
com aqueles utilizados pela propaganda hitleriana.
Ainda numa óptica comparativa, de naturalismo e
modernismo, vale a pena evidenciar o caso paradig-
mático da emissão filatélica que combinou as duas
propostas, não tanto ao nível expressivo, mas sim
ao nível do conteúdo. Falamos da emissão de selos
comemorativos do Duplo Centenário da Fundação e
Restauração de Portugal, datada de 1940, que marca
este período da história artística das comunicações
(imagem 5)
.
Esta emissão foi dividida por quatro desenhos re-
presentando a
Fundação
(estátua de D. Afonso Hen-
riques e castelo de Guimarães), os
Descobrimentos
(monumento-padrão dos descobrimentos marítimos
portugueses), a
Restauração
(estátua equestre de
D. João IV) e a
Exposição
(a partir da maqueta do re-
cinto), com desenhos, respetivamente, de Alberto de
Sousa, Maria Pires Keil do Amaral, Henrique Franco
e Jaime Martins Barata.
Este conjunto de selos é bem representativo da pro-
pagandística dos valores nacionais: por um lado, a
fundação da nacionalidade e restauração da indepen-
dência, e, por outro, as grandes obras contemporâne-
as, dedicadas à exaltação da «portugalidade», como
as apresentadas na Exposição do Mundo Português
de 1940.
Comemorando os centenários da Independência e
da Restauração, esta exposição marcou o auge da
política cultural do novo regime, que através da pro-
paganda e do ensino veiculou os ideais nacionalistas
sem o esperado impacto internacional pois o resto do
mundo vivia a Segunda Guerra Mundial.
vezes pelo regime, à semelhança de outros regimes
totalitários, que privilegiaram a estética modernista
conotada com o progresso
(imagem 3)
.
Referimo-nos às seguintes emissões: a comemorativa
da l.ª Exposição Colonial Portuguesa, em 1934, em
cujo desenho Almada representa o busto de uma in-
dígena das Províncias Ultramarinas de África; a do
selo-base «Estado Novo», com a legenda «Tudo pela
Nação», de 1935; do selo «Hélice» para o correio aé-
reo, de 1936; a comemorativa da Exposição de Bru-
xelas, de 1958, e a comemorativa do Ano Mundial do
Refugiado, de 1960.
Destacamos o desenho alegórico de Almada Negrei-
ros para o selo-base «Estado Novo», simbolizando os
valores e forças da nação, unidos num movimento
Emissão comemorativa da «Legião Portuguesa»
desenhada por António Lima, 1940.
Emissão Comemorativa dos «Centenários da Fundação e Restauração de Portugal»:
Exposição do Mundo Português e Monumento do Padrão dos Descobrimentos Marítimos Portugueses,
com desenhos respetivamente de Jaime Martins Barata e Maria Keil, 1940.
Imagem 4
Imagem 5