Page 99 - Comunicar na Republica

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Ditadura Militar e Estado Novo – Liberdade adiada
sua grande maioria de tradição naturalista, cabe aqui
apresentar essas manifestações e, sobretudo, eviden-
ciar os exemplos inovadores.
Nesta ótica comparativa destacamos na
imagem 1
emissões filatélicas que abrem o período do nosso
objeto de estudo.
A 3.ª Emissão Comemorativa da Independência de
Portugal, de 1928, de artistas académicos como Al-
fredo Morais, Alberto de Sousa e Alfredo Roque Ga-
meiro que enaltecem a história de Portugal através de
personagens como Gualdim Paes, Joana de Gouveia
(figura heróica da Batalha de Aljubarrota) e Matias
de Albuquerque e de episódios como a Conquista de
Santarém e a Batalha de Roliça. Os desenhos natu-
ralistas são ainda enriquecidos com molduras orna-
mentadas com elementos arquitetónicos com refe-
rências ecléticas, da autoria de Ramos da Costa.
Estas emissões demonstram a cultura e mentalidades
de uma elite marcada pelo eclectismo romanticista
de inf luência francesa que não distingue o suporte fi-
latélico de uma gravura de médias dimensões, onde
as suas molduras finamente trabalhadas como se fos-
sem talha ornamental carregam o selo já densamen-
te ilustrado na imagem central. O espírito romântico
dos autores e dos temas encontra paralelismo nas es-
colhas das pinturas no âmbito dos salões académicos.
Esta proposta estética não será substituida pela es-
tética modernista mas ambos os estilos irão subsistir
alternando-se, de emissão para emissão, em função
dos artistas escolhidos.
A criação da Fundação Calouste Gulbenkian em
1956 e o esboço de mercado em 1968 permitiu um
maior desenvolvimento do vanguardismo, com gran-
de capacidade inventiva e criação de novos conceitos
como a ocultação, a calimorfia, o realismo divergen-
te, o espaço ambíguo, o abjecionismo e o dada-zen,
desenvolvidos respectivamente por Fernando de
Azevedo, António Areal, Vieira
da Silva, Fernando Lemos, Má-
rio Cesariny e Eurico Gonçalves.
Uma expressão artística dire-
tamente ligada à comunicação,
surgida durante a época do Es-
tado Novo, foi a arte postal pela
mão dos surrealistas. Porém,
atendendo ao seu maior desen-
volvimento a partir dos anos
1980, incluímos a sua caracte-
rização no capítulo dedicado à
Democracia.
O abstracionismo lírico tem ori-
gem no surrealismo e procura a
meditação sobre o espaço pictu-
ral, as possibilidades expressivas da figura pura e do
signo.
O neofigurativismo também colhe da experiência do
abstracionismo lírico, a partir de 1960, promovida por
Joaquim Rodrigo, Paula Rego e Costa Pinheiro.
Apesar de a arte filatélica não apresentar estas pro-
postas estéticas e continuar presa à arte figurativa, na
O selo «Lusíadas», lançado em 1931, com o
propósito de substituir os selos tipo «Ceres», foi
escolhido através de concurso aberto em 1926,
para o desenho de um novo selo-base desenhado
por Pedro Guedes numa alegoria à República,
personagem feminina que segura
«Os Lusíadas», apresenta um estilo naturalista
mais depurado que a emissão comemorativa
referida anteriormente.
Desenhos de Almada Negreiros para a emissão
comemorativa da «l.ª Exposição Colonial
Portuguesa» e para o correio aéreo, numa
alegoria à aviação, em 1936.
Uma personalidade que imediatamente nos remete
para o modernismo é Almada Negreiros, o qual pela
primeira vez introduz essa linguagem nas emissões
filatélicas.
Os selos criados por ele instauram uma linguagem
gráfica de estilização muito eficaz na personificação
de mensagens de forte carga simbólica, utilizados por
Imagem 2
Imagem 3
FPC