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Ditadura Militar e Estado Novo – Liberdade adiada
estações dos grandes centros urbanos e modelos de
arquitetura tradicional, «casa portuguesa», para as
estações das localidades de província (estação de Ar-
ganil de 1948).
As emissões filatélicas de 1927
a 1974
Ao nível das artes plásticas verifica-se que as emis-
sões filatélicas de 1927 a 1974 estão marcadas pela
corrente mais académica, pautada pelo naturalismo
historicista, na continuação da tendência da I Repú-
blica, até às propostas mais modernistas, aproveita-
das com propósitos de propaganda do regime.
As tendências estéticas do neo-realismo, abstracio-
nismo geométrico e lírico, surrealismo e o neofigu-
rativismo, que marcaram o panorama artístico por-
tuguês durante as décadas de 1940 a 1960, estiveram
ausentes da arte filatélica.
O neo-realismo foi uma corrente surgida, cerca de
1937, na literatura e que evoluiu para a pintura pela
mão de artistas como Mário Dionísio, Júlio Pomar,
Lima de Freitas, Querubim Lapa, entre outros.
Conotado com o Partido Comunista Português pela
filiação de vários dos seus representantes, o neo-
-realismo era uma tendência estética que se impôs,
independentemente deste partido, pela conjuntura
política do País.
O surrealismo surgiu cerca de 1947 pela evolução es-
tética de certos artistas neo-realistas, tais como Ce-
sariny, Cruzeiro Seixas, Fernando de Azevedo, Ves-
peira, a que se juntaram Carlos Calvet, Lemos, Eurico
Gonçalves e António Areal, que não se identificando
com o regime do Estado Novo, tal como os neo-rea-
listas, também não se identificavam com o marxismo.
Este movimento pictórico intensificava o valor oníri-
co da imagem e aprofundava a aventura poética total
do abstracionismo lírico, desenvolvendo a linguagem
num grau de múltiplas leituras.
Em 1937, o arquiteto Adelino Nunes, responsável
pelos projetos de arquitetura na comissão, visitou
a França e a Inglaterra onde colheu as suas experi-
ências, realizou um levantamento das necessidades
nacionais e apresentou um plano com a definição de
uma estratégia de intervenção.
Os seus três projetos-tipo partiam de uma planta racio-
nal que garantia a autonomia das três funcionalidades
dos edifícios – atendimento ao público, serviços técni-
cos e casa do gerente –, e previam duas hipóteses de
alçados, um moderno e o outro regionalista.
Também elaborou projetos especiais para as capitais
de distrito que exploravam o caráter urbano das cida-
des onde seriam implantados, optando, de um modo
geral, por uma linguagem afirmadamente modernis-
ta. A estação de correios com a proposta mais van-
guardista foi a do Estoril.
Porém, a partir de 1938 a maioria das estações, so-
bretudo as das capitais de distrito, foram realizadas
numa estética mais tradicional e regionalista.
Assim, entre as décadas de 1930 e 1940 os CTT be-
neficiaram de um Plano Geral de Edificações, pro-
movido pelo Ministério das Obras Públicas que se
materializou em planos para 110 edifícios, dos quais
foram projetados 106 e destes foram construídos 89.
Nenhum outro projeto arquitetónico da iniciativa
governamental para instalação de serviços públicos
conheceu esta taxa de concretização, à exceção da
construção das Escolas dos Centenários.
Desde a sua origem (estudos que fundamentaram o
arranque), em 1932, até à conclusão da última esta-
ção, Ponta Delgada, em 1954, os trabalhos ref letiram
a mudança política e ideológica da expressão estética
promovida pelo Governo.
Nos primeiros anos os projetos verdadeiramente mo-
dernistas, por iniciativa dos seus autores – de que
a estação do Estoril (1942) é o melhor exemplo (ver
página 113) – evoluíram, por efeito da manipulação
propagandística, para modelos mais tradicionalistas
e historicistas: estilos joanino ou pombalino para as
3.ª Emissão Comemorativa da
«Independência de Portugal»,
de 1928:
A conquista de Santarém,
com desenho de Roque Gameiro
e a batalha dos Atoleiros,
com desenho do mesmo artista.
Imagem 1
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