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Amor terno e luminoso que a natureza faz seu, hino à mulher:
Junto daquela fonte rumorosa,
Onde chilreia a música do Dia
Em vibrações de luz maravilhosa,
Foi que eu ouvi a sua voz macia.
Como sobe, na tarde luminosa,
Uma clara e suavíssima harmonia,
Cheia de graça e unção religiosa,
Dentro de mim, a sua voz, subia!
Não sei porquê, dentro de mim agora,
evocando a ternura dessa hora,
minh’alma toda se deslumbra, vede!
Ó fonte de água límpida e veloz:
É talvez porque ouviste a sua voz,
Que só tua água acalma a minha sede!
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Responde a poesia admirável de Augusto Casimiro:
Na divina constância da paisagem
Em que vagueio e sinto, e escuto e vejo,
Dissolve-se o bramir de uma voragem
Como o silêncio extático dum beijo...
E ruídos, aspectos, aparências,
Nestes campos elísios encantados,
Imagens, gritos, cantos, existências,
Pairam em luz divina, extasiados...
tir compraraumvestidinho comprido,de sedaazul eumchapéude velu-
do preto antigo que singularmente contrastava comos cabelos loiros,
ondulados. As pombas diziam-lhe segredos e ela ia recolher as velhas
cartas onde o perfume de outro tempo a chamava
As escritas amorosas encantavam os seus dias cinzentos. Nelas, a
amada nascia de uma flor roxa e os namorados navegavam num rio
prateado e beijavam-se entre cascatas, suspiros verdes do arvoredo,
rosas vermelhas e malmequeres azuis. Assim eram os amores de
Arthur
e
Maria Celestina
.
De umazul celeste e tãomaravilhosos como
a saga do Rei Artur. As imagens compunham um fresco de costumes
com as suas marionetes grotescas e ternas.
Blanche navegava ela também naquelas águas calmas e remanso-
sas,azuis ebrilhantes aoencontrodeuma
Branca
deháumséculoque
a esperava num barquinho oriental entre nenúfares e guarda-sóis de
papel.Obarquinhodeteve-sepormomentos nummaciçode flores cor-
-
de-rosa, a voz de Branca fez-se ouvir entre brincadeiras de crianças:
«
Amar e ser amado é o ideal da felicidade» (22/10/1911) e o barquinho
seguiuno remansooouroda tarde.Amores felizes comoode
Yvonne
aos
vinteanosno jardimdeumaPrimaveradeliciosaouode
Maria Júlia
,
Nita
a quem o amado escrevia: «Como as avezinhas que em longínquas
paragensprocuramo rochedoamigoqueas livredo rancor domar,assim
o coração humano o guia incessantemente embusca de companheiro
que lhe tornemenos espinhoso o leve sopro da existência.» (14/5/1911)
«
Tununcavisionaste,Nita,oquepossaexistir de real,degrandioso,no
luar diluídoquenos banhouontemànoite?...Pois olha,euvejonabele-
za instintiva da minha sofreguidão de amor, qualquer coisa do luar de
ontem,muito da luz de todos os dias, d’essa luz que nos tolda a vista e
nos aquece também! É tão belo testemunharmos à lua o nosso amor,
peranteela tudoé tãopuro,tãobranco,tãobranco,que,dir-se-ia,dia-
logavamas nossas almas com tudo que de bom sentiam!...»