Página 71 - Códice nº3, ano 2006

ção dum sonho que se prende ao meu
destino. Nas tuas mãos deponho um
ternobeijodo teuRaul» (Natal de 1927).
X, seduzido pela música das palavras,
ficoua imaginar o rostode Isabel:olhos
escuros eprofundos,sonhadores,belos
e de uma alegria doce feita de espe-
rança e expectativa, sorriso de rubi e
rosa apaixonada, pele de translúcido
cetim,o rosto namoldura de ondas de
ouro iluminado.
As palavras e as imagens misturavam-
-
se formando um único rio, horizonte
de signos indecifráveis, pura obses-
são, desejo sem nome que arrastava
X e lhe tirava o sono. Adormecia, ten-
tando decifrar aqueles códigos, como
os das cartas de
Raul
e
Adelaide
cheias
de grafismos esquisitos que subita-
mente lhe ditavam inocentes discursos
de namorados. Doces emoções, como
as de Lili escrevendo a Jayminho:«Meu
querido Jayminho. São 6h da manhã.
Ia pegar na carta para quando saisse
a deitar na caixa, mas lembrei-me de
te escrever este bilhetinho. Chegaste
bem a casa? Espero em Deus que sim.
Virás logo? Deus queira que sim...Adeus, recebe muitas e muitas
saudades da tua Lili». Ternura a que responde o doce bilhete de
Jayminho.
Ardente expressão dos sentimentos
durante a violência da Guerra nas car-
tas de Jesus a Filomena, de João a Pri-
mitiva,de Camille a Jeanne:
«
Ma Gosse
bien aimé: Je t'envoie comme par le
passé ma plus tendre affection et
l'amour ardent qui jamais ne se sépa-
rera de toi,mais mon amour je ne puis
te le prouver que sur ce froid papier, et
pourtant Dieumerci, j'en souffre amè-
rement. À quand serons-nous ensem-
ble pour toujours, dans notre petit
intérieur, rien que nous deux et te
prouver l'affection que j'ai pour toi, tu
sais, j'ai encore le caffard, et pour-
tant?? il faut se résigner. Au revoir mon
épouse chérie.Ton cher gosse qui t'em-
brasse bien fort, et qui t'aime pour
toujours. Camille. (29/3/1919) Sont à
toi mes plus folles caresses et mes plus
ardents baisers. Ton cher époux qui
t'aime à la folie et un seul instant ne
t'oublie. Camille P.S. Mille bons baisers
à bientôt dans tes bras, celui qui t'a
donné sa vie, et souffre de tes baisers.
Au revoir ma bonne Jeannette, à bien-
tôt te revoir Bons baisers»
(26/3/1919).
Vultos ressuscitando o romance no labirinto anónimo das multidões.
Blanche, que invejava Ofélia, alimentava-se também com o fascínio
daquelas palavras de amor e daquelas imagens. Paramelhor as sen-
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