Página 57 - Códice nº3, ano 2006

gatar o vazio do tempo e de
incendiar as águas de umabaía
translúcida e azul com barqui-
nhos de velas brancas embusca
de pomares de frutos suma-
rentos iguais aos do Paraíso.
Dos fundos recessos do tempo,
cobertas de uma poeira leve,
as letras sinuosas, elevando-
-
se, torres indecisas ou tom-
bando ao peso de emoções vio-
lentas,as letras azuis e negras,
escorridas ou firmemente as-
sentes no pedestal dos sonhos
vieramsorrateiramente encan-
tar os seus dias, enchê-los de
ilusões, de afectos, que não
sendoos seus,ofereciamao seu
espírito e ao seu coração, um novo calor, um brilho de cristal. Como o
poeta,gostaria de escrever:«Sinto-me criança,minha Amiga,e como
as crianças preciso dos sonhos claros e inocentes, - daqueles sonhos
que todos nós sonhamos na nossa distante infância, quando a voz
da nossamãe nos adormecia,contando os contos das princesas e das
moiras, que todas as mães sabem contar, quando querem adorme-
cer os filhos...»
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.
A amiga sonhada confundia-se com as namoradas
de mil cartas de amor de desconhecidos que pousavam um instante
nos seus dedos antes de regressarempara sempreaopaís das quimeras.
Milhares de postais da cor dos sorrisos plasmando no papel um eter-
no amor. De
Ermelinda
a
Jaiminho
Crê sempre nomeu sincero amor
de quem jura amar-te eternamente. A que é tua Ermelinda».
De
Alda
a
Arnaldo
MeuArnal-
do,Foste capaz de chorar? Eu fui
má sem querer. Perdoa, sim!
Não quero que chores quando
eu vivo só para ti! Quando só
desejava ver-te rir,és um tonti-
nho! saudades infindas da tua
Alda.» (14/12/1909).«Embala-
da nomais ardente amor,cheia
de fé em ti Arnaldo,venhohoje,
dia do teu aniversário, ofere-
cer-te este pequeno trabalho
que reflecte duas almas que se
amam e de quem eu quero o
nome eternamente.»
(30/3/1910)
De
Arnaldo
: «
Minha querida
Alda (...) sabes perfeitamente
que desde há alguns dias para cá ando muito esquisito sem saber o
que tenho. É muito possível que eu já esteja magnetizado por ti, e é
por isso que ando assim, quase sem forças. (...) Até aqui tenho sabi-
do conquistar o teu cândido coração. E ele já é meu não é, minha
querida tolinha?» (26/11/1910)
«
Desde omeio dia até às três emeia que estive emcasa e sempre com
vontade de te ver. Sabes porque o não fiz?Talvez te zangues comigo,
porém crê que foi por saber que tu agora estes dias deves ter muito
que fazer. Se eu te pudesse apertar filhinha não te cansarias tanto,
tens de levar isso com paciência, pois é a última mudança n'esse
género que fazes em solteira. Breve vaes fazer outra, porém essa
outra é para te ligares em corpo e alma a este teumaridinho que ver-
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