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Os seus mais belos tesouros de ima-
gens nas cartas de
Armando
e
Hilda
ou, colhidos nas quatro partidas do
mundo, nos postais de
Adelino
a
Erme-
linda
celebrando o sonho e a fantasia
perfumadas de ausência. Esplendor
secreto de um discurso de imagens
eloquentes, letras magicamente ilu-
minadas, a cintilação das flores, a
volúpia e o requinte do corpo femini-
no, a beleza e nostalgia dos rostos e
dos olhares, evocando a amada, o
exotismo de paisagens reais e o puro
sortilégio de horizontes inventados.
Escrita de enigmas, expressões da deli-
cada teia dos sentimentos, da con-
fiança e candura à paixão, à dúvida,
refazendo o mistério do amor que tudo
salva, que tudo une e transfigura.
Quim e Georgina, Alda e Arnaldo, Lini-
nha e Valentim, Brito e Guilhermina,
Maria Augusta e Vasco, Armando e
Hilda ou Adelino e Ermelinda, nomes
reais, entre uma infinitude de outros,
perdidos nas estações do país lon-
gínquo do coração, cujo mapa acha-
ra justamente nas cartas de Adelino,
com a sua enseada dos beijos, a costa dos segredos, a serra dos
sonhos, a ilha do desprezo e os mares do esquecimento e da sepa-
ração.
dadeiramente te estremece (...).»«Hoje
o tempo temestadomuitomauenãome
tem deixado ir aí falar-te. Queridinha
filha! (...) Para ti eu vivo querida! Quise-
ra já ter-te na nossa casa unidinha a
mim! És tu anjo,queme tens dado a feli-
cidade, não és? Como seremos felizes
ambos! Tenho pensadomuito em ti que-
rida! Quero pois que o teu nome esteja
sempre na minha imaginação, como o
temestado até aqui. Se não estivesse o
dia ruim reservava-o para ir passear até
à nossa casa, porém não pode ser. (...)
Abraça-te o teu maridinho Arnaldo»
(
Lisboa, 9/12/1910).
«
Ofereço à minha muito querida e
amada Lininha comoprovadeuma inten-
sa amizade e de um eterno amor. Teu
até morrer Valentim».
«
O teu pensamento será sempremeu?/
Diz-me com toda a franqueza/ O meu
crê bem é, e será sempre teu/ Sempre
comamesma firmeza.Gostas destaqua-
dra? parece não estar má. Teu Brito (a
Guilhermina
- 28/7/1907).
Sabes oque eu
penso de ti? Que és um anjo! Recebe
saudades do teu
Brito
. (13/9/1907)
As cartas desfolhavam-se uma após outra, rosas que o tempo gas-
tou para voltarem a reflorir, na magia absoluta das palavras meio
apagadas, que permaneciam, traçado balbuciante, caudaloso.