Página 56 - Códice nº3, ano 2006

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a satisfação de um bem sonhado por nós e que a nossa consciência
aprova e quer. Realmente minha querida Georgina não era uma fan-
tasia demomento,aquela inclinação natural de nossas almas,naque-
les primeiros dias! Desdeentãoatéhoje,os dias
têm-se passado quase como num sonho!...»
(...) «
PorémminhaGininha,no íntimodaminha
alma, quer tu estejas perto de mim, quer te
escondas demeus olhos, eu vivo no sonho de
me pertenceres...embora não possa estar
junto de ti! (...) Tu has desaparecido, mas o
meu espírito vive contigo, imaginando-te.
Assimfoi hojeminhaboaGininha.Tuporémnão
só me deste a tua imagem para me acompa-
nhar até aqui, como também me quiseste
falar de longe... A tua cartinha não podia vir
em melhor ocasião! Pensei por momentos
estar ainda contigo, ouvindo-te falar em coi-
sas d’alma, em sonhos de uma felicidade que
ocupa o pensar de nossas almas gémeas de
sentir, vivemos de igual esperança e amor.»
As espiraizinhas que terminavamcertas letras
das cartas de Quim, veio a descobri-las muito
tempo depois,ao virar de outra esquina,entre
mil outros postais sem importância. Reuniu
as cartas do terno Quim e com elas vieram as
de Georgina que estavam próximas. O casal revivia, a alma daquele
amor não se perdera, no dédalo da cidade, da forma mais espanto-
sa reflorescera a sua essência perfumada.
X procurava e achava agora sofregamente cartas de amor de perfei-
tos desconhecidos,ecos de uma ânsia sublime, vozes capazes de res-
aquela ficou a pairar sobre o lago entre a neblina e o luar, até que as
pombas cansadas adormeceram nos beirais das casas e as casas
adormeceramno regaçodanoite.O Sr.X,pelo contrário tinhaacordado
com um desejo irreprimível. No dia seguinte,
ao que parece por acaso, uma magnífica e
misteriosamissiva, sob a forma de umpostal
ilustrado foi o início da sua deslumbrante
aventura.
A letra formavapequenas espirais contorcidas
e esquisitas e sobre imagens de uma beleza
aérea e delicada estava escrito: «O amor é
uma sublime
attrazione
entre duas almas
que se conhecem»,e ainda:«Oamor é o des-
pertar da alma no que tem de mais belo e
sublime, é a sua aurora, é um olhar imenso,
intraduzível,cheiodeummísticodesejo,duma
constante esperança!...»
Quim
escrevia a
Georgina
: «
Quando te não encontras perto
de mim eu procuro imaginar-te de qualquer
forma. Já não posso viver sem ti minha Geor-
gina! Estou tão habituado a ouvir-te falar, a
surpreender num sorriso dos teus um amor
como sabes sentir, que o privar-me da sua
presença me é tão penoso como se houvera
sofrido um dissabor. Quem poderá ser para
mimessa influência que de ti dimana que a ti me prende numa cadeia
tão doce, tão amiga! Quando recordo aqueles primeiros dias em que
te vi e deixoqueaminhamente percorraatéhoje essaestradade emo-
ções tão queridas,mais me convenço de que este amor,que une nos-
sas almas, é um laço muito forte, capaz de todos os sacrifícios, para