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-1918),
João de Barros (1881-1960) com os
seus pseudónimos (João-Gabriel daGanda-
ra,JorgedeMiramar),AlfredoPimenta (1882-
-1950),
LauraChaves (1888-1966),JaimeCor-
tesão (1884-1960),AugustoCasimiro (1889-
-1967),
Marta Mesquita da Câmara (1894-
-1980),
CândidaAyres deMagalhães (1876-
-1964),
VirgíniaVictorino (n.1898-1967),JoãodeCastroOsório (1899-1970),
Anrique Paço de Arcos (1906-1993), Guilherme de Faria (1907-1929),
muitos,muitos outros e um semnúmero de poetisas e de poetas des-
conhecidos ou hoje praticamente esquecidos, que em seu dia Nuno
CatharinoCardoso,ele tambémesquecido,recolheuemvaliosas anto-
logias. Sem dúvida pressenti que a voz da poesia se ligava profunda-
mente a essa vaga de fundo da sensibilidade e era a quinta essência
do seu canto,comele coincidindo.Emgestaçãoestavaoprojectodedar
forma à arte de amar de um período de ouro da civilização europeia,
de certa forma contrariandoo cursodo tempoou citandoMarcel Proust
emepígrafe,de«reaver o tempo perdido», reconquistando o amor,o
seu fascínio capaz de reencantar amodernidade.O textoque se segue,
é uma tentativa de resumir esta históriamaravilhosa emisteriosa que
pode ser contada de mil maneiras possíveis, que está, bem o sei, ape-
sar das aparências,aindano inícioequehoje vos confio,esperandoque
possa envolver-vos na sua magia.
Mar d'astros. Tudo reluz.
Então, a um beijo mais lento,
Entramos, ébrios de luz,
Em pleno deslumbramento.
Jaime Cortesão -
Divina Voluptuosidade.
«
Oxalá os nossos corações possam cantar eter-
namente a melodia do nosso amor (…)»
Helena Huertas aos dezassete anos
Abrem-se as portas de ouro do maravi-
lhoso, das sombras da memória ressurgem magicamente ecos de
um tempo de veludo que nos deslumbra com as suas melodias
escondidas e ignotos perfumes de um horizonte cheio de carícias.
Passageiros de destinos cinzentos que não escolhemos, detemo-
-
nos nos umbrais de um desejo antigo. Uma enseada luminosa, pro-
funda, de águas que a distância vai escurecendo, aguarda-nos ou
envolve-nos nos seus véus de milagre e surpresa.
Um labirinto sombrio e vacilante, a cidade com os seus infinitos olhos
que nos espiam e guardam no seu cofre as ilusões perdidas. As casas
multiplicam as casas, os gestos, os gestos quotidianos de uma
ausência sempre repetida. O homenzinho de Magritte, vestido de
negro, com o seu insólito chapéu de coco visita-nos, multiplicado
pela nossa própria desolação. O céu cobre-se de ouro e rosas,
amanhece a flor de uma alegria prometida que ilumina os dias, os
jardins e as pequenas praças. Sentimos que é urgente o sorriso, que
não podemos adiar o amor, nem a liberdade nem a vida de que fala
esta luz invasora e subversiva. Mas nada responde a não ser o eco
dos nossos passos, o vento arrastando o turbilhão das folhas de
Outono, um ouro e um fogo anoitecidos pisados pela multidão
anónima e apressada. Para onde vamos, que rumo nos aguarda,
que doloroso não-sentido nos persegue, máscara de uma comé-
dia, ou de um drama há muito começados e que não ousamos
abandonar?