Página 45 - Códice nº3, ano 2006

45
xander Roger lhe tinha comunicadoemmomentoanterior,de vir a redu-
zir os dividendos por os considerar muito elevados.
Contudo Salazar revelou-se particularmente sensível aos argumen-
tos da APT relacionados com a sua credibilidade no mercado inglês.
Naquela altura a Companhia estaria com dificuldades de financia-
mento e tinha de liquidar dívidas a curto prazo. Assim admitiu que
para o capital existente se mantivesse, provisoriamente, uma taxa
de remuneração de 8%, que deveria ser revista logo que se reto-
massem condições de maior normalidade na vida da empresa. Esta
posição tinha a ver claramente comumproblema de credibilidade face
aos accionistas existentes, dado que a taxa de remuneração de 8%
se aplicaria somente às acções já existentes e não às acções a
emitir.
Quanto àmargementre receitas e despesas,a AG CTT pretendia que
se cifrassem em pouco mais de 700 contos. A APT pretendia 5000
contos.Salazar aceitou,por umaquestãodeprudência,elevar umpouco
a margem proposta pela AG CTT, agravando-se «algumas taxas de
modo a obterem-se não os 5 mil contos pedidos, mas 2 a 3 mil, diga-
mos, à roda de 2 mil e quinhentos».
Ainda assim, esta margem viria a ser objecto de alguma ambiguida-
de J.Thorp,da APT,fora logo informado por Sir Alexander Roger,e reu-
niu comCouto dos Santos antes de este ser informado da decisão de
Salazar pelo ministro das Comunicações. Thorp procurou convencer
Couto dos Santos a estabelecer uma margem de 5 mil contos.
De acordo com o relato que este fez da reunião, segundo Thorp «Sir
Alexander Roger pretendia mesmo um saldo de 7 000.Mas qualquer
tarifário que conduza a um saldo inferior a 5 mil contos não pode ser
aceite. Sir Alexander Roger seria obrigado a pedir nova audiência a
S. Ex
a
o Presidente do Conselho. Os seus desejos seriam certamente
satisfeitos».
24
De qualquer modo, o cálculo veio a ser feito segundo as linhas gerais
estabelecidas por Salazar, que não mostrava disponibilidade para
rever a sua posição de modo favorável à APT: «Eu não desejaria em
qualquer caso tornar a ocupar-me destemesmo assunto,e se issome
fosse permitido, aconselharia Sir Al. Roger e outros interessados
a fechar sobre estas últimas vantagens as negociações».
Desta tomada de posição de Salazar resultou a nova estrutura tari-
fária [
gráficos 1 e 2
].
Globalmente implicou uma descida significativa
de preços em termos reais, que entre os dois anos foi de 33%. Em
termos nominais o aumento foi de 26%
25
.
A posição de Salazar pode ser considerada favorável à APT, nesta
arbitragem na fase final do processo de decisão. Implicou, face
à posição da AG CTT, um acréscimo de receita para a APT de 4 mil
a 5 mil contos, que correspondem a pouco mais de 3% da receita
obtida em 1950 com as novas tarifas. Face aos valores percentuais
das variações de preços nominais e reais, não se tratou de alte-
ração substancial, mas teve significado, sem qualquer dúvida.
Salazar reconheceu isto mesmo. Na carta a Busttorff Silva expli-
cou os motivos da mudança de opinião quanto aos dividendos, acei-
tando uma taxa de 8% para as acções existentes, depois de ter
sempre apoiado a posição do Ministério. Tratava-se da necessidade
de atrair investimento estrangeiro, num país que, em princípio, não
teria grandes atractivos: «Portugal é um paiz que muito neces-
sita de capitais estrangeiros. Apesar de não ser rico, julgo-o
mesmo pobre, dá ainda oportunidades para bons negócios, está-
veis, sólidos, contanto que o capital não se exceda nas suas exi-
gências.»
Ao mesmo tempo, contrapondo o reconhecimento deste poder
negocial do capital estrangeiro, Salazar referia a necessidade de
algum bom senso negocial: «No estado actual da política e da