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sentido. A integralidade da mensagem só era obtida após o seu
enrolamento no bastão de comprimento e espessura idênticos do des-
tinatário.
Entre os Romanos é o «Código de César» que se destaca pela sua
longevidade, uma vez que continua a ser utilizado, embora com
desenvolvimentos, até hoje. Consiste na substituição alfabética
simples de três posições, isto é, a letra A substituir-se-á pelo D e
assim sucessivamente. Embora possa ser facilmente descoberto
(«
quebrado») este sistema está na base de desenvolvimentos pos-
teriores e, até, praticamente contemporâneos que referiremos mais
adiante.
Suetónio na sua obra
Os Doze Césares
diz-nos o seguinte sobre a escri-
ta de Júlio César: «Conservaram-se, demais, as suas cartas a Cíce-
ro e as que escrevia aos amigos sobre assuntos domésticos; quan-
do tinha qualquer comunicação secreta a fazer-lhes,escrevia emcifra,
isto é, dispondo as letras numa ordem tal que com elas se não podia
formar nenhuma palavra; se se quiserem decifrar e perceber-se-
-
lhes o sentido, é preciso colocar a quarta letra do alfabeto, isto é,
o d no lugar do a, e as demais por aí fora.»
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.
Por vezes reforçava o
segredo da mensagem substituindo letras latinas por gregas.
César utilizou, igualmente, técnicas esteganográficas para ocultar
o conteúdo das suas ordens. Sabemos que no decurso das suas
campanhas na Gália se exprimiamuitas vezes emgrego, língua des-
conhecida dos Gauleses.
Actualmente,designam-se todos os códigos baseados na substituição
regular alfabética como « Códigos de César», por extensão de sen-
tido.
Durante a IdadeMédia ocidental, a criptografia nunca deixou de ser
utilizada mas era objecto de interdito pela Igreja que considerava
estas técnicas associadas à bruxaria.
dasmensagens.Istoé,enquantonoprimeiro caso semodifica,sealte-
ra amensagem transformando-a pelo recurso a umcódigo secreto de
texto claro em texto codificado, no segundo a mensagem mantém-
-
se inalterada mas fica «escondida» até que o destinatário a revele.
Oprimeiro exemplo documentado do uso de código secreto para alte-
rar um conteúdo escrito ocorreu, justamente, no antigo Egipto.
O escriba do arquitecto Khnumhotep II substituiu palavras de algu-
mas passagens dos projectos do seu senhor furtando,assim,estes tex-
tos à curiosidade de eventuais ladrões de túmulos, mil e oitocentos
anos antes da era cristã.
Na Mesopotâmia também há exemplos do recurso a estas técnicas,
bem como nos antigos Impérios da China e da Índia através de, por
exemplo, tatuagens ocultas no couro cabeludo de escravos ou recor-
rendo a marcas inscritas em tabuinhas de cera e disfarçadas sob
novas camadas de cera.
Entre os Hebreus desenvolveram-se vários códigos ficando especial-
mente conhecidoumcódigode substituição simples peloalfabeto inver-
so, o ATBASH (cerca de 500 a. C.) que com os códigos ALBAM e ATBAH
forma o conjunto das «cifras hebraicas». O primeiro foi utilizado na
escritado«Livrode Jeremias»
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e consiste na substituiçãode cada letra
por aquela que estiver a igual distância partindo do fimdo alfabeto,
isto é, a primeira pela última, a segunda pela penúltima, etc.
Dos vários exemplos descritos ou efectivamente utilizados pelos Gre-
gos (século V a. C.) avulta o «bastão de Licurgo» ou
skytale
,
técnica
engenhosausadapelos Espartanos e descritapor Plutarcona suaobra
Vidas de homens ilustres
.
Baseia-se na utilização de dois bastões de
igual comprimento e diâmetro na posse do emissor e do destinatário
e numa fita de couro ou pergaminho que, após inscrita enquanto
enrolada no bastão, era desenrolada e usada como cinto. Mesmo
que fosse apreendidamostraria,apenas,uma sequênciade letras sem