Página 9 - Códice nº3, ano 2006

Os Árabes, ao invés, dedicaram-lhe particular atenção, ligando-a aos
estudos matemáticos de que foram grandes cultores. É assim que o
termo cifra (
sifr
)
deu origem ao
chiffre
,
em francês, ou ao
ziffer
ale-
mão, sendo também o conceito que o zero traduz.
Al-Khalil (século VIII) escreveu um tratado sobre o assunto,
Kitab al
Mu’amma
(
O livro das mensagens criptográficas
)
em que, pela pri-
meira vez, se utilizou a técnica criptoanalítica do «método da pala-
vra provável», isto é, aquele que se baseia na procura de expressões
habituais em mensagens de carácter oficial.
O mais antigo livro de criptologia é o
Risalah fi Istikhraj al-Mu’am-
ma
(
Escritos sobre a decifração de mensagens criptográficas
),
que
se conserva até hoje,da autoria de Al-Kindi (século IX) que sistematiza
a «análise de frequências», matriz do método estatístico.
A Ordem dos Templários (século XII) que, devido à riqueza que acu-
mulou funcionou como instituição de crédito, auxiliar de príncipes e
senhores, cifrava as suas notas de crédito através do sistema ATBASH
modificado.
Ibn ad-Duraihim (século XIV), autor do livro
Miftah al-Kunuz fi Idah
al-Marmuz
(
Chaves para a elucidação das mensagens secretas
)
foi
mais longe: tipificou e classificou as cifras, fez análise de frequên-
cias em várias línguas e explicou o funcionamento de tabelas e
grades.
Por esta mesma época, em Itália, Gabriele Lavinde, a pedido do
papa Clemente VII, sistematizou as cifras em uso. Apareceu, assim,
um sistema compósito de cifras e códigos. A cifra utilizada era a de
substituição ligada a códigos ou palavras-chave que são enumera-
das numa lista constando de palavras, sílabas e nomes equivalen-
tes. Conserva-se um exemplar deste manual datado de 1379 e a sua
utilização em serviços diplomáticos, na Europa, prolongou-se até
cerca dos meados do século XIX.
Igualmente importante foi a criação do «disco de cifragem», ante-
passado damecanização da criptografia,por Leon Battista Alberti em
1466
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.
Tratou-se do primeiro exemplo de cifra polialfabética, e este
disco podia, igualmente, ser utilizado para obter códigos ou pala-
vras-chave cifrados. Muito difícil de «quebrar» manteve-se em uso
com sucesso até ao início do século XIX.
Mas a difusão da criptografia só conhece maior expressão com a
invenção da imprensa. O primeiro livro impresso de criptologia, isto é,
o conjunto das técnicas de criptografia e criptoanálise, tem o título
Poligraphiae libri sex
e foi seu autor JohannesTrithemius. Foi publicado
pela primeira vez cerca de 1518 e reimpresso sucessivamente em 1550,
1564, 1571
e 1600, além de conhecer inúmeras traduções, o que
demonstra claramentea suapopularidadenumaépocaemque oaces-
so à leitura era apanágio demuito poucos. Estemonge criou uma cifra
em que cada letra do texto claro seria substituída por uma palavra
obtida de uma sucessão de colunas. Do conjunto destas palavras
resultava uma oração, a AveMaria deTrithemius. Na obra atrás cita-
da descreveu, assim, cifras polialfabéticas obtidas pelo recurso a
uma tabela rectangular de substituição, a
«
tabula recta Caesar»
e
introduziu amudança de alfabetos por cada letra empregue no texto
codificado.
Entre vários autores italianos do Renascimento de obras sobre esta
temática, incluindo a esteganografia, salientou-se particularmente
a figura de Girolamo Cardano,médico,matemático e filósofo. Foi ele
o criador da «Grelha de Cardano» que consiste numa folha de car-
tão ou outro material rígido que contém, a intervalos variáveis, orifí-
cios rectangulares mais ou menos extensos correspondentes à altu-
ra de uma linha de texto. O remetente escreve a mensagem sobre a
folha de papel dentro dos orifícios preenchendo, posteriormente, os
espaços restantes com palavras ou letras de forma aleatória.
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