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para os outros defuntos as tonalidades de amarelo mantinham a
mensagem da solarização eterna.
Ousonaturalistapercebe-senapinturade flores,cereais,algumas aves,
e,como já foi antes assinalado,na cor dapele feminina,emvárias tona-
lidades que iamdesde uma coloraçãomais pálidaaté umamarelomais
escuro, num cânone que a partir da Época Baixa começou a ser des-
curado.
Quanto à utilização mágico-religiosa, o amarelo era um evidente
substituto do ouro, a cor da pele dos deuses, servindo ainda para
algumas coroas e ceptros reais e divinos, além da representação de
jóias.
A cor verde
O verde (emegípcio
uadj)
,
omnipresente napaisagemnilótica,erabas-
tante usado na pintura. Para o verde turquesa havia a expressão
mefkat
,
que aliás também quer dizer turquesa. Esta cor podia ser
obtida a partir da malaquite (carbonato de cobre verde), que era
obtida geralmente no Sinai desde tempos muito recuados,mas tam-
bém se conseguia a partir de crisólito esmagado (silicato de cobre
hidratado).
Como uso naturalista o verde serve perfeitamente para flores e ele-
mentos vegetais em geral, algumas aves, faixas nas perucas femini-
nas, colares
usekh
e colares florais.
O seu usomágico-religioso detecta-se na coloração de pele de alguns
deuses (como Osíris e Anúbis), reis e defuntos, no sentido de rejuve-
nescer, enverdecer (
uadj
).
É de resto esta ideia de renascimento que
justifica que os belos signos hieroglíficos usados nos «Textos das
Pirâmides» sejam verdes.
A cor azul
lhante
imau
,
e para um tipo de vermelho de ocre três formas podiam
ser utilizadas:
tjer, utjer e tjur
.
Quanto ao cinábrio,umbelo tomaver-
melhado de grande efeito decorativo (sulfureto de mercúrio), pare-
ce ter aparecido apenas a partir da Época Baixa.
O uso naturalista patenteia-se no cânone cromático para a pele do
homem, e por vezes a cor dos homens tinha tons algo avermelhados.
Também nas linhas de contorno dos elementos a amarelo, fundos
de textos, separação de linhas de texto, representações do coração
e de nacos de carne em cenas de oferenda era usado o vermelho.
Como uso mágico-religioso, era a cor do terrível e crespo deus Set, e
enquantoele foi cultuado (sobretudono ImpérioNovo) o vermelho liga-
va-se à força intempestiva, à violência, sem conotações que pudes-
semser consideradas negativas;quando Set passoua ser amaldiçoado,
a partir da Época Baixa (século VII a. C.), o vermelho acompanhou
essa desdita. Era tambéma vermelho que os escribas registavamnos
seus papiros os nomes de Apopis e Set, divindades de conotação
negativa, salientando-os no meio do texto a tinta preta. Por vezes a
cor do disco solar e do vestuário de algumas divindades era também
avermelhada.
Os ocres vermelhos usados para obter a desejada coloração eram
vários, tendo as designações de
didi, menchet, perech
e
tjemehi.
A cor amarela
Oamarelo (emegípcio
ketj
)
eraobtidodeocres,nomeadamenteoóxido
de ferro hidratado (limonite). Existia uma expressão para o dourado
(
kenit
)
e para a cor própria do ouro (
nub
),
e a evidente conotação cro-
mática entre o amarelo e o dourado observa-se na preferência pelos
tons amarelados dados àmaioria dos sarcófagos. Claro que os faraós
e outras altas figuras da família real podiam ter belos sarcófagos de
ouro (como se vê, por exemplo, no sarcófago de Tutankhamon),mas
Relevo pintado de calcário do túmulo da princesa Nefertiabet (Sakara; hoje no Museu do Louvre).