Página 53 - Códice nº2, ano 2005

tos feitos com pedras semi-preciosas aptos a adornar jóias e amule-
tos. De seguida faremos uma síntese das mais significativas cores e
da sua utilização.
A cor preta
A cor preta (em egípcio
nehés
)
ou negra (em egípcio
kem
),
de ampla
utilização, era obtida essencialmente a partir do carvão de madeira,
mais raramentedepirolusite,óxidodemanganésioprovenientedoSinai,
se bemque estemineral fossemais usado na preparação de unguen-
toparamaquilhagem,dandoo famoso e elegante contornousadonos
olhos e sobrancelhas.
O uso naturalista da cor preta surge sempre que seja preciso reforçar
cavidades,e nas perucas,olhos,sobrancelhas,boca e outros detalhes
do corpo representados a cor escura. Nas estatuetas funerárias
(
chauabtis ou uchebtis) serve para destacar os atributos e os instru-
mentos agrícolas.
É também preta a cor dos hieróglifos escritos sobre o papiro, desta-
cando-se bem do tom amarelado desse típico suporte de escrita.
Eram igualmente pretos os hieróglifos pintados nas claras paredes dos
túmulos emateriais fúnebres,embora,emcircunstâncias demaior dig-
nidade representacional e quando tecnicamente era possível,os hie-
róglifos pudessem ter uma coloração real emulticolor,de acordo com
o signo figurado.
A cor preta tem igualmente usomágico-religioso, vista como a cor de
regeneração (tal como o verde), sendo tambéma cor damassa betu-
minosa com que se impregnam as múmias, preservadas na cor preta
da eternidade e do renascimento no outro mundo. Aliás, divindades
como Anúbis eMin aparecemamiúde coma pele negra (Anúbis por ser
figurado como um cão selvagemescuro, eMin ligado à potência cria-
dora coma suapele escuraa contrastar comobrancodo linhodo sudá-
rio que o envolve). O deus Osíris, por estar relacionado com a eterni-
dade, também podia ser figurado com a pele preta.
A cor branca
O branco (em egípcio
hedj
),
era a cor da coroa do Sul, ou Alto Egipto
(
a coroa
hedjet
),
cor de alegria, de triunfo, de felicidade. Obtinha-se
a cor branca a partir da cal ou do gesso.
Tinha um largo uso naturalista como bem se compreende na pintura
das flores, o fundo branco dos olhos, a representação das faixas de
linho ou a cor de casas e templos nas representações pictóricas, rou-
pas,nomeadamente emestátuas e estatuetas funerárias,comos tra-
jos doquotidianousados pelos capatazes (chauabtis emtrajodos vivos).
Quantoaousomágico-religioso,ele detecta-se nos ricos trajos dos jus-
tificados no tribunal de Osíris (os defuntos que comparecem para o
julgamentomaético),o vestuário dos sacerdotes,e ainda os sudários
de Osíris, Ptah, Khonsu, Sokar e Min, entre outros deuses do pan-
teão. Nas estátuas e estatuetas funerárias está presente em vários
atributos exibidos nas mãos.
Os fundos de paredes tumulares,sobre as quais se espalhavamas pai-
sagens e as figuras, tinhammuitas vezes um fundo branco, dando a
intemporal neutralidade a que já nos referimos.
A cor vermelha
O vermelho (emegípcio
decher
),
obtidoapartir de vários ocres,erauma
cor de conotações quase sempre negativas; dizia-se que uma coisa
prejudicial enefastaera vermelha.Umadas raras excepções eraa coroa
vermelha do Norte, ou Baixo Egipto, chamada justamente a verme-
lha (
decheret
).
Para um vermelho mais escuro (ou, como parecia ser
a tonalidade egípcia, mais azulado), usava-se a forma
tjemés
.
Para
o vermelho«cor de sangue»existia a forma
inés
,
para o vermelho bri-
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Cena mítica do túmulo de Sennedjem, em Deir el-Medina: o casal de defuntos laborando nas fartas terras do Além (Campos de Iaru).