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Nos inícios do século XVII já estava implantadauma viapostal que liga-
va Lisboa a Braga passando por Porto,Aveiro e Coimbra,lugares onde
estavam instalados correios assistentes, tendo o correio ordinário
uma periodicidade semanal. Para além, desta existia outra que liga-
va Lisboa a Badajoz, por onde circulava o correio não urgente expe-
dido para os países europeus. Quanto à correspondência inadiável, e
eventualmente confidencial, em que se inseria o correio diplomático
dirigido às cortes europeias, era transportado por correios extraordi-
nários contratados pelo correio-mor e pagos pelaCoroa.O fluxo de cor-
respondência que seguia pelo caminho de posta que ligava Portugal
a Espanha conheceuumconsiderável acréscimo durante o domínio fili-
pino, passando por ela as ordens emanadas da corte deMadrid para
os governadores ou vice-reis sediados em Lisboa. Nesta época, regis-
tou-se igualmente um aumento do número de correios assistentes.
Em 1641, a rede abrangia, para além das localidades já referidas
(
Porto, Aveiro, Coimbra),Viseu,Tomar,Guimarães, Ponte de Lima,Vila
do Conde eViana do Castelo,algumas das principais sedes de comar-
caexistentes anorte doTejo.QuantoaoAlentejo,eraatravessadopela
linhade postaque ligava LisboaaCastela,passando por Évora.Por sua
vez, o «reino» do Algarve só viria a ficar integrado na rede de correio
ordinário a partir dos inícios do século XVIII.
A iniciativa da expansão dos serviços organizados de correios terá
partido muitas vezes dos poderes instalados no território, em parti-
cular dos concelhos e instituições eclesiásticas. D. João III reconheceu
às câmaras competências para se constituírem como suportes do
correio quando as encarregou do fornecimento de animais e manti-
mentos, função que as vereações desempenhariam ao longo dos
tempos modernos na qualidade de estruturas mais capazes para a
governação das diversas comunidades que naquela época forma-
vam o País. A ligação das câmaras à rede postal também decorre do
facto de elas se constituírem como sedes de poder, aonde afluía,
e donde emanava, informação reservada que teria de ser conduzida
por correios de confiança. As câmaras nomeavam estafetas e cor-
reios peões e suportavam parte dos custos do transporte do correio
para o termo concelhio ou para outras localidades, quando não dis-
punham na sede de correio assistente. O aumento dos fluxos comu-
nicacionais sob forma de documentos escritos conduzidos por esta-
fetas acompanhou o progressivo controlo dos territórios concelhios
pelas cidades ou vilas, sendo aquela dominação camarária ou da
Coroa intermediada pelas vereações.
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Para além da rede concelhia, também a paroquial foi utilizada pela
Coroa para difundir mensagens pelo território e sobretudo para colher
informação necessária para o conhecimento do País que os monar-
cas não podiam obter por outros meios devido à debilidade da buro-
cracia régia.
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As próprias necessidades de difusão da comunicação
escrita por parte da Igreja, estrutura mais articulada do que a do
«
Estado», levaram-na a tomar a iniciativa de criação de carreiras
postais.EmViseu,a ideiade instalaçãode umpostode correio e aorga-
nização de uma via postal que ligasse esta cidade a Coimbra partiu
do bispo e foi concretizada pela câmara, obtendo, em seguida,
o assentimento do correio-mor através da concessão da nomeação
de umcorreio assistente.Como propõe António deOliveira,as relações
entre a Coroa e os poderes implantados no território português não
podem ser vistos apenas numa perspectiva de concorrência, mas
tambémde colaboração.
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Emmatériade serviços de transporte de cor-
respondência várias instituições convergiramno sentido damaior efi-
cácia da circulação das mensagens.
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A passagem da titularidade do ofício de correio-mor para um parti-
cular, em 1606,não significou a perda de controlo por parte do poder
régio do sistema de comunicações postais. Com efeito, os monarcas