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I República – Liberdade em ação
Os precursores Gago Coutinho, Sacadura Cabral e Ma-
nuel Gouveia tiveram de inovar equipamentos, adquirir
novos conhecimentos de física, matemática, geografia,
astronomia, mecânica e telecomunicações. Gago Cou-
tinho vinha fazendo investigações desde o início do
século, sendo de sua autoria o sextante de bolha (tam-
bém chamado astrolábio de precisão). Desenvolveu,
em parceria com Sacadura Cabral, o corretor de rumos
para obviar aos desvios provocados pelos ventos e re-
gistou duas patentes no âmbito da telegrafia.
O sextante é um instrumento baseado no princípio do
astrolábio e da balestilha, que foram utilizados durante
os Descobrimentos por via marítima, sendo que o sex-
tante de bolha permite mais operacionalidade através
dos espelhos, telescópio, bolha de ar e pilha para de
noite. Os últimos melhoramentos terão sido introduzi-
dos já após a primeira travessia do Atlântico Sul.
Este sextante para posicionamento global e cálculo de
distâncias foi posteriormente comercializado pela in-
dústria alemã com a designação de sistema Coutinho.
A primeira viagem aérea
Vila Nova de Milfontes-Macau
Em 1924, dois anos após a viagem da
primeira travessia do Atlântico Sul,
foi ultimada a programação da via-
gem a Macau, realizada por Sarmen-
to de Beires, Brito Paes (aviadores) e
por Manuel Gouveia (mecânico), ten-
do beneficiado da co-organização
em terra do sargento Lobato, bem
como da reunião de apoios entre a
sociedade civil que se cotizou para
financiar o evento. Existe uma placa
comemorativa deste feito no jardim
da Amadora, junto à estação dos
caminhos-de-ferro.
O voo partiu de Vila Nova de Mil-
fontes, talvez por ser próxima da lo-
calidade onde Brito Paes nasceu. O
hidroavião denominado «Pátria Mi-
nha» fez escala em Bagdad (Iraque),
onde se encontrava outro pioneiro
da aviação, Pelletier Doysy, de na-
cionalidade francesa, que se referiu
aos pilotos portugueses nos seguin-
tes termos:
«Examinei, estupefacto, o aparelho
que tripulavam Brito Paes, Beires e
o seu mecânico (...) não escondi aos
meus camaradas portugueses a ad-
miração que causava a sua façanha»
(Pelletier Doysy, no seu livro de me-
povo brasileiro, com o novo feito histórico: comemo-
rar o centenário da independência do Brasil com a
viagem inaugural por via aérea.
Cartaz sobre a primeira viagem aérea Portugal-Brasil.
Hidroavião «Lusitânia».