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I República – Liberdade em ação
alto mar por um rádio expedido de bordo do
Elec-
tra
, para a Companhia Rádio Marconi. Às 19:20 o
Electra
, barco elegantíssimo, que por mais de uma
vez tem estado em Lisboa, surgiu em frente a Belém,
seguindo ao seu encontro o rebocador
Operário
, do
Arsenal de Marinha, levando a bordo o Sr. coman-
dante Júdice de Vasconcelos, um dos directores da
Companhia Rádio Marconi (...) O sábio Marconi não
desembarcou ontem, devendo fazê-lo hoje pelas 10
horas a f im de visitar as instalações da Companhia
Rádio Marconi e o seu posto em Alfragide. Depois
destas visitas regressará a bordo, onde almoça, vol-
tando novamente a terra para dar um passeio por
Sintra e Cascais. O
Electra
deve deixar o Tejo dentro
de 3 dias.»
6
Após a segunda visita de Marconi a Lisboa, e depois
de diversas negociações, em 1922 é elaborado um se-
gundo contrato que previa a construção da rede de
TSF nacional, incluindo nesta todas as colónias por-
tuguesas do continente africano.
No referido documento ficou bem explícito que a
Marconi’s Wireless dispunha do direito da constru-
ção dessas estações e, simultaneamente, assumir a
responsabilidade de constituir uma companhia de
cariz nacional que assegurasse em pleno a explora-
ção daquela rede de radiocomunicações. Estavam
assim criadas as bases para, em 1925, ser constituída,
essencialmente com capitais ingleses, a Companhia
Portuguesa Rádio Marconi (CPRM), tendo esta como
primeiro presidente António Cente.
No ano seguinte, entram as primeiras estações de
TSF em funcionamento, ligando via rádio o Continen-
te aos Açores e à Madeira. Alguns meses mais tarde
ligou-se da mesma forma a capital às suas colónias
africanas – Angola, Cabo Verde e Moçambique.
A 23 de setembro de 1929, e em pleno funcionamen-
to da empresa portuguesa, o inventor italiano che-
ga uma vez mais a Lisboa. A sua intenção foi logo
cumprida assim que desembarcou no Cais das Co-
lunas, deslocando-se diretamente à sede da CPRM,
que se situava na Rua de São Julião. Na sua visita
demorada observou atentamente as instalações e os
operadores portugueses que cuidavam das comuni-
cações radiotelegráf icas com as colónias de África
e de alguns países americanos e europeus. Marconi
constatou que os trabalhos e o equipamento funcio-
navam na perfeição, remetendo para Londres, via
rádio, as boas impressões com que f icou das insta-
lações de Lisboa. De seguida visita o posto de Al-
fragide:
«Visiting Telegraph Office of Companhia Portugueza
Rádio Marconi
in Lisbon stop Impressed by their effi-
6
. In Diário de Notícias
, n.º 22 866, 24 de setembro de 1929, p. 1.
nava descobrir a origem dos sinais «misteriosos» que,
de quando em quando, interferiam na TSF, um outro
relacionado com a radiotelefonia, e ainda um outro
que se prende à radiotelegrafia, pronto a transmitir
ondas contínuas a longas distâncias, visando colma-
tar o já referido problema das comunicações entre
países longínquos.
Ao contrário da primeira visita, Marconi deslocou-se
a Lisboa a bordo do seu moderno laboratório expe-
rimental f lutuante, o iate
Electra
, acompanhado pela
sua mulher Beatrice OBrien
5
, filha do 14.º barão in-
glês de Inchiquin, e pela sua filha mais velha Lucia.
As obrigações protocolares, oficiais e políticas foram
cumpridas, da mesma forma que em 1912, repetin-
do-se a reunião com o chefe de Estado português,
o encontro com deputados, políticos, governantes e
elementos da diplomacia. Assim como no passado
juntou-se a alguns dos seus conterrâneos num ban-
quete oferecido pelo embaixador italiano.
Desta vez visitou a vila idílica de Sintra, deslocando-
-se ao antigo Paço Real, apreciando o edifício qua-
trocentista. No dia 23 de abril, Marconi e os seus
acompanhantes partem do Cais Sodré em direção a
Gibraltar.
1929
«Marconi, o inventor da TSF chegou ontem ao Tejo a
bordo do seu iate
Electra
.
Desde ontem ao f im da tarde, que se encontra no
Tejo o iate de recreio italiano
Electra
, propriedade
do grande sábio e inventor da TSF, marquês Gugliel-
mo Marconi. A sua vinda a Lisboa foi anunciada em
5. Beatrice OBrien, filha do barão inglês de Inchiquin, foi a
primeira mulher de Marconi, visto que tanto um como outro
voltariam a casar depois de a sua união ser anulada.
Marconi com e sua filha na escadaria do Paço da Vila
em Sintra, 1920, (
Ilustração Portuguesa
, 3 de Maio, n.º 741,
p. 311).