Page 52 - Comunicar na Republica

Basic HTML Version

52
I República – Liberdade em ação
para a úbere terra portuguesa cheia de promessas de
abundância.
Constantino Sobral Fernandes, formado pela Escola
de Belas-Artes de Lisboa, e vencedor do concurso
para a execução do selo sobre a República, reve-
lou neste trabalho a inf luência contemporânea do
romantismo eclético francês, onde prevalece uma
estilização gráfica mais moderna do que nas cenas
detalhadamente historiadas das emissões filatélicas
assinadas por Roque Gameiro ou Alberto Sousa.
Este ícone, que esteve em circulação até 1945, foi
contemporâneo de emissões filatélicas com soluções
plásticas de continuidade naturalista como foi a se-
gunda emissão comemorativa da Independência de
Portugal ou a emissão comemorativa do 4.º Cente-
nário do Nascimento de Camões, com desenhos de
Roque Gameiro, Alfredo Morais e de Alberto Sousa.
Pelo seu carácter «arcaico», devido à linguagem plás-
tica utilizada, mas com o mesmo sentido patriótico
que a Ceres, destaquemos a emissão comemorativa
do 4.º Centenário do Nascimento de Luís de Camões,
de 1924.
Com desenhos de Alberto de Sousa, representa sete
diferentes episódios da vida e morte daquele poeta:
Camões em Ceuta, Camões salvando
Os Lusíadas
;
o naufrágio de Camões, retrato de Luís de Camões,
portada da primeira edição de
Os Lusíadas
, últimos
momentos de Camões e monumento a Luís de Ca-
mões.
Símbolo maior da cultura portuguesa, Camões já
tinha servido os propósitos republicanos, a seguir à
crise do Ultimato (uma das causas longínquas da im-
plantação da República) através das suas comemo-
rações.
posta vanguardista foi a do pintor Constantino Sobral
Fernandes.
Pelo interesse histórico, destacamos a paradoxal
emissão «D. Manuel II» com uma sobrecarga «Repú-
blica». O selo «D. Manuel II» foi posto em circulação a
1 de janeiro de 1910, tendo sido o último selo emitido
durante a Monarquia, com desenho e gravura execu-
tados por Domingos Alves do Rego.
Porém, foi utilizado após a implantação da República,
com a sobrecarga correspondente, durante mais de
dois anos. É de salientar que embora o momento fos-
se de rutura com os ideais monárquicos impunham-
-se restrições severas devido à elevada dívida pública
herdada da Monarquia cessante. Foi por esta razão
económica que se mantiveram em circulação os selos
de D. Manuel II com a sobrecarga «República».
Em segundo lugar não podemos deixar de destacar o
primeiro selo da República, a emissão-base «Ceres»,
lançado em 12 de fevereiro de 1912, da autoria de
Constantino Sobral Fernandes.
Esta emissão merece destaque pela inovação estética
e ideológica que representou. Ideologicamente van-
guardista, esta deusa romana das colheitas, da fertili-
dade e da abundância, associada também às classes
plebeias, foi um ícone da República que a nível esté-
tico também se pautou pela modernidade, sobretudo
em confrontação com os modelos dos artistas ante-
riores.
A originalidade de Constantino Sobral Fernandes re-
sidiu na escolha de uma figura feminina, na linha da
Mariana, símbolo maior da Revolução Francesa, mas
que desta se distingue.
A Ceres traz ideologicamente, em si, uma carga im-
portante pois aponta, igualmente, para a Mãe-Pátria,
FPC