Página 61 - Códice nº7, ano 2010

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surgimento de palácios e casas
apalaçadas.
Contudo, o vertiginoso aumento
de população neste bairro só se
verificou em finais do século XIX,
acompanhando o crescimento
demográfico da cidade de Lis-
boa, que essencialmente se deu
pormotivosmigratórios depesso-
as oriundas das regiões Centro e
Norte do País. No caso da Madra-
goa, a proximidade com o rio
atraiu indivíduos ligados às acti-
vidades marítimas, sendo sobre-
tudo provenientes da região de
Aveiro, emespecífico deMurtosa,
ÍlhavoeOvar (daí onomeovarina, quemais tardeevoluiupara varina).
A maioria destas pessoas, casais de pescadores e varinas, optaram
por ficar neste bairro e era habitual ouvir as mulheres a apregoarem
o peixe de canastra à cabeça.
Ao Bairro Madragoa desde sempre estiveram ligadas figuras ilustres
da nossa História. Desde os reis D. Manuel I e D. João V, passando por
muitas outras personalidades como Gago Coutinho, Joly Braga San-
tos, Mouzinho de Albuquerque, Pinto deMagalhães, Padre Rabecão,
Maria Severa Honofriana, Manuel Guitarreiro, Fernanda Baptista,
Amália Rodrigues, Maria da Fé, Raúl Solnado, entre outros.
Actualmente, o bairro é vivido pela população residente, que divide
o seu tempo entre uma ida à padaria, ao alfaiate, ao sapateiro e à
vetusta taberna; por aqueles que aí desenvolvem a sua actividade
profissional; pelos estudantes e pelos que chegam para apreciar a
beleza e tranquilidade deste bair-
ro deslumbrante...»
Paracomplementar, destacaram-
-
se alguns relatos de viajantes
estrangeiros sobre a Madragoa:
O de William Beckford, em 1787,
segundooqual: «...Depois do jan-
tar saímos a fazer visitas. Nunca
vi tão cruéis altos e baixos, tão
íngremes subidas e tão declives
ladeiras, como a gente encontra
a cada passo quando anda por
Lisboa. Mais de cinquenta vezes
me julguei prestes a cair ao Tejo,
ou a ser precipitado em covões
de areia, entre sapatos velhos,
gatos mortos e bruxas pretas, que se escondem nessas cavernas e
covis, para aí leremas sinas e venderem feitiços contra as febres...»;
ou o de John Hobhouse, em 1809, para quem «...Os portugueses de
condiçãoelevada […]mandambuscar água. Todaaáguaque sebebe
emLisboaé compradaaaguadeiros, naturais daGaliza, acimade tudo
muito fortes, que têm uma espécie de alvará oficial. Toda a gente é
obrigada a ter à noite no quarto umbarril cheio de água para apagar
os incêndios da cidade. Os aguadeiros fazem fortuna, regressam ao
seu país e compram um terreno...»
Colaboraram na produção dos conteúdos, sobre o território e as
gentes, as historiadoras Sofia Tempero e Bárbara Bruno, por parte
das instituições parceiras, respectivamente, Unidade de Projecto
da Madragoa (CML) e Museu da Água da EPAL, atenta a sua expe-
riência nesta matéria. A primeira, técnica da Câmara Municipal de