Página 7 - Códice nº6, ano 2009

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bem como os outros capitães dos
navios, recusaram-se a participar no
projecto. Alegaram como principal
razão o facto de naquela viagem a
armada ser composta exclusivamente
por naus de mercadores e que devido
ao contrato que tinham com os seus
feitores,os quais representavam,não
queriamatrasar os negócios nempar-
ticipar numa empresa que poria em
risco o objectivo principal daquelamis-
são,a qual visava somente a aquisição
das preciosas especiarias
12
.
Esta atitude veio indispor Afonso de
Albuquerque comGonçalo de Sequei-
ra
13
,
tendo o governador sentenciado que mesmo antes da armada
se abastecer das especiarias, teriam eles conhecimento da conquis-
ta e seriam os portadores da notícia para o Reino, pois «que nestas
naus havia demandar recado a El-Rei que ele ficava descansando den-
tro na Cidade de Goa»
14
.
Afirmou ainda Albuquerque que eles arca-
riam coma responsabilidade de perderemuma oportunidade de ser-
virem ao seu soberano, acrescida da vergonha de não participarem
de um tão grande feito
15
.
O governador – de espíritomais guerreiro do
que comercial – chegouaindaa queixar-se aomonarca:«seVossaAlte-
za quer ser rico, não venham cá naus de mercadores para o negócio
da Índia, naus há nela que abastem se lhemandardes muitas lanças
e muitas armas»
16
.
Bem gostaria D. Manuel de seguir esse conselho,
chegando a responder «que assim se fará, prazendo a Deus»
17
.
Con-
tudo, a debilidade financeira da Coroa frente ao audacioso projecto
do tráfico indiano,já não podia dispensar o patrocínio decisivo dos par-
ticulares no lucrativo comércio asiá-
tico.
Reconquistadadefinitivamentea cida-
de de Goa em25 de Novembro de 1510
confirmou-se a profética previsão de
Afonso de Albuquerque, tendo a
armada de Gonçalo de Sequeira e com
ela o nosso futuro correio-mor do
Reino, acabado por trazer a Lisboa os
maços de cartas com as notícias da
importante conquista, bem como
sobre outros assuntos e as providên-
cias tomadas a respeito do império
oriental que então se construiria e
que agora já possuía a sua sede
19
.
Chegando a Portugal em meados do ano de 1511
20
,
Luís Homem via-
jará em seguida para a Flandres, possivelmente para acompanhar as
especiarias pertencentes à Coroa trazidas na viagem e que eram na
sua maior parte negociadas naquela região através da feitoria por-
tuguesa de Antuérpia. Isto é o que se poderá deduzir de ummandado
de D.Manuel datado de 18 de Agosto de 1512
21
,
no qual se refere a che-
gada de Luís Homem a Lisboa, vindo da Flandres, donde trazia a
fazenda real, que deveria consistir no produto da venda de parte
daquelas mercadorias.
Neste mesmo documento fica patente o valimento que Luís Homem
já possuía junto aomonarca,pois para alémda confiança nele depo-
sitada para trazer o seu dinheiro, D. Manuel ordenava ao feitor e
mais oficiais da Casa da Índia que pagassem logo a Luís Homem em
pimenta o que lhe ficasse líquido dos trinta e quatro quintais que trou-
xera na nau em que fora à Índia, para que ele a pudesse levar con-
Lisboa, Ribeira das Naus.
Cena evocativa do comércio de especiarias.