a abertura de um novo espaço público de crítica e
influência.
A técnica, o objecto e as camadas juvenis da sociedade
são pois os novos protagonistas deste movimento, que relan-
çou de forma eficiente o gosto pela arte. Seja por efeito do reco-
nhecimento popular ou da qualidade artística,a arte torna-se a par-
tir deste momento «algo que a nós pertence» e que só a nossa
experiência sensorial pode interpretar e julgar.
A pop art fixa o momento de passagem para o pós-modernismo
desde o momento em que a cultura social passou também a estar
baseada no excesso e na produção massificada; o resultado é uma
perdagradual da experiência sensorial que torna esta experiêncianum
aglomerado de
flashes
interpretativos,criando uma sociedade recep-
tora e pouco dada à racionalidade.
Os protagonistas criadores, imbuídos do pensamento que é sua fun-
ção criar objectos únicos com o propósito de estimular a sensibilida-
de, têm pois a responsabilidade acrescida de educar consciências e
mentalidades. Não que a arte conceba a apresentação de ummode-
lo pedagógico ou formativo, no entanto, abre as portas ao desen-
volvimento cognitivo, que tanta importância tem na maneira como
encaramos disciplinas como a filosofia ou a psicanálise. AndyWarhol
começa no seu livro
Popism
por assumir:«se tivessemorrido há 10anos
atrás, nestemomento seria uma figuramítica». Os mitos são os últi-
mos grandes protagonistas da pop, não os que existirammas os que
poderiamter vindoaexistir,porqueo conceitodemito segundoos artis-
tas pop não se associa à vida e a morte, mas ao culto da personali-
dade.
Durante toda a década de 60 verificamos o aparecimento de uma
panóplia de personagens com uma originalidade estética bastante
atractiva, que promovema sua imagemnos melhores canais de difu-
são, como a televisão, o cinema ou as revistas, que pela primeira vez
se começama associar a diversos factores preponderantes para a con-
solidação de uma nova cultura social assente na exaltação das
imagens que fazem a moda (e nada mais fácil que pegar em diver-
sos figurantes e tornar a sua imagemuma causa comuma todaa socie-
dade).
Omote para o lançamento da reproduçãomassiva das imagens des-
ses protagonistas vai protagonizar tambémaprópriaarte que os retra-
ta, criando um ciclo vicioso. No entanto, o problema da interpretação
da pop art parece persistir, quer se trate de composições abstractas
de elementos abstractos ou de criações abstractas com elementos
reais. Conscientes de que se pode interpretar a obra, a mesma tem
que ser sempre feita de uma forma individualizada e empírica, pois
a falta de elementos de percepção comuns (namaior parte das vezes
são somente as ideias e os conceitos do artista que cria) não permi-
te compreender o que originou a obra, partindo do pressuposto que
para a arte ser considerada terá sempre que ascender a uma lin-
guagem estética própria e interpretativa.
A perspectiva semiótica considerada para apoiar a formulação deste
problema enfatiza que a significação da arte compõe hoje um novo
tipo demensagem,utilizada paramodificar consciências e reorganizar
os novos modos de sensibilidade e estímulo, sendo que os meios para
a prática artística foram aumentados.
Os criadores tiveram que se tornar estetas, utilizando materiais e
métodos que até então somente faziam parte do mundo da «não-
-
arte». A concepção de obras com fotografias, tecidos, areia e rodas
de bicicleta, ou mesmo com matérias orgânicas como cabelo, plan-
tas, pele, etc, vão assumir uma descontextualização do seumeio ori-
ginal, passando a pertencer a um campo bastante mais subjectivo.
De certa forma, acredita-se que a estética é a poesia não-verbal dos
75