Página 55 - Códice nº6, ano 2009

A primeira reunião da comissão comoministro doTrabalho foi,porém,
inconclusiva, fazendo aquecer os ânimos e contagiando a maioria
dos funcionários que cada vez mais se mostravam dispostos a ence-
tar uma greve.
«
Ovasto salãodaAssociaçãodos Caixeiros,naRuaAntónioMariaCar-
doso, foi pequeno para o número de funcionários que acudiram à
reunião»nas palavras de Cândido de Oliveira.Visava esta assembleia
dar a conhecer a resposta do ministro, que todos suspeitavam não
adiantar em nada a questão, e tomar resoluções em conformidade.
Face a uma atitude mais contemporizadora dos delegados do «pes-
soal maior» (oficiais) ergueu-se a voz do representante do «pessoal
menor» (carteiros eafins) SilvaSantos quedefendeucom intransigência
omandatodeque tinha sido incumbido:aumentos de45%paraos salá-
rios mais baixos e uma resposta positiva no prazo máximo de quinze
dias. Carlos Jacques, o último a discursar, apostrofou o Governo com
as seguintes palavras «mais vale morrer dum tiro que de fome!»
E é comeste lema que os espíritos estão prontos a arrostar com todas
as dificuldades que uma greve impõe. Havia que prepará-la, mas,
dado o clima de receio existente, o local da primeira reunião prepara-
tória foi, depois das 10h da noite, na Serra de Monsanto. Os delega-
dos ouviramentãoumapropostaapresentadapeloGoverno,aque ser-
viu de porta-voz um dos elementos presentes, José Gaspar, repre-
sentante do pessoal menor. Se a comissão se retratasse da imposição
do prazo estabelecido para a resposta do ministro então seria possí-
vel reconsiderar umaumento.Esta proposta foi muito discutida e aca-
bou por ser votada favoravelmente.
Comunicadaa resposta foi acrescentado pelo representante daAdmi-
nistração Geral que tal compromisso não seria reduzido a escrito nem
assinado. O comité reuniu em casa de um dos delegados na Calçada
da Ajuda e posteriormente no areal de Belém, em frente dos Jeróni-
mos, onde se lhes juntaram cerca de sessenta funcionários das Cen-
trais de Correio, Telégrafo, Ambulâncias Postais e Encomendas. Foi
decidido pela maioria aceitar a proposta governamental.
Nos primeiros dias da segunda quinzena de Agosto,ocorreu a segun-
da reunião comoministro doTrabalho e Previdência Social,LimaBasto,
também ela recheada de promessas mas sem nenhum compromisso
formal.
Comaaproximaçãodo fimdoprazoestipuladoparaaobtençãodeuma
resposta, as reuniões dos funcionários, mais ou menos organizadas,
sucedem-se.Napenúltima,antes dagreve,todos os implicados no comi-
té assinamumcompromisso de honra de,uma vez declarada a greve,
a manterem até integral satisfação das suas justas aspirações e
desencadearemoutras se se viessemaexercer represálias sobreos impli-
cados na greve.
Omomento crítico final foi marcado pela publicação no dia 31 de Agos-
to de 1917 do Decreto 3326 no «Diário do Governo» satisfazendo
muito parcialmente as reivindicações dos funcionários. A sorte esta-
va lançada. Às sete horas da manhã do dia 1 de Setembro de 1917
tinha início a primeira greve telégrafo-postal.
A resposta do Governo chefiado por Afonso Costa não se faria espe-
rar.Opessoal telégrafo-postal é,imediatamente,mobilizado.Todos os
queabandonavamas instalações doTerreirodoPaço,onde funcionava
a Central de Correios de Lisboa, eram conduzidos, entre duas filas de
soldados de infantaria, sob voz de prisão por insubordinação, em
direcção ao Arsenal.
Estas prisões suscitamomaior clamor entre os que ainda não tinham
sido presos e uma vontade crescente de engrossar essas fileiras.Junto
à tabacariaMónaco,no Rossio,são afixadosmanifestos do comité de
greve. Fica então agendado para o dia 3 de Setembro pelas 12 horas
o iníciodeumagreve solidáriaextensivaaos restantes funcionários que
consistirá na apresentação nos locais de trabalhomas com recusa do
mesmo. A palavra de ordemserá« sempre fixe»,expressão de deter-
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Acervo iconográfico da FPC.