Página 52 - Códice nº6, ano 2009

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reuniu-se a 17 domesmomês.Nela foi nomeada uma comissão encar-
regada de propor o aumento a pedir e as formas do seu financia-
mento. Em21 de Abril resulta destes trabalhos uma proposta que tem
como vector fundamental a beneficiação dos salários mais baixos
(44%)
e,de formapercentualmentedecrescente,atéaosmais elevados,
superiores a 1 000$00 (14%). Prevê igualmente as formas de finan-
ciamento através de um diminuto aumento dos portes das corres-
pondências e da taxa dos telegramas.
Este documento terá sido apresentado quer ao administrador-geral
quer ao ministro do Trabalho, porém, o silêncio foi a resposta. Passa-
dos dois meses nesta situação sem saída, os mais audazes e incon-
formados resolvemacertar uma reunião envolta nomaior secretismo.
Um dos elementos com acesso ao gabinete do chefe do Governo,
Afonso Costa, propõe esse local por ser, sem dúvida, o mais insuspei-
to. Eram doze os conjurados que se comprometeram a fazer crescer a
ideia de que só comuma greve,a 1
a
greve telégrafo-postal, seria pos-
sível fazer ouvir as razões de todaaclasse.Foi decididomobilizar deNorte
a Sul, todo o País, tendo sido divididas essas tarefas pelos coligados.
NoPorto,passados quatromeses sobreopedidodeaumento semqual-
quer resposta,foi decidido convocar uma nova assembleia a que com-
pareceram delegados do pessoal de Lisboa. Dela resultou um ultima-
to ao Governo para dar uma resposta positiva no prazo de quinze
dias.
Depois de sopesada a atitude a tomar, dado o radicalismo da moção
nortenha,foi julgadomais conveniente começar as conversações pelo
administrador-geral o que efectivamente aconteceu em 7 de Agosto
de 1917. O delegado enviado do Porto, Gomes Teixeira, e que também
esteve presente nesta reunião integrando a comissão representati-
va, tinha sido, dias antes, recebido entusiasticamente por mais de
mil funcionários na Gare do Rossio, donde foi levado em ombros até
à sede da Associação, no meio de vivas à classe.
As greves telégrafo-postais: testemunhos de
quem as viveu
Tomaremos como base para esta parte da exposição três pequenos
opúsculos existentes noArquivoHistóricoda FundaçãoPortuguesadas
Comunicações,dois deles referentes àgreve de 1917 e umque descreve
a greve de 1920.
Os dois primeiros intitulam-se «A primeira greve telégrafo-postal»
da autoria de Cândido de Oliveira e «No Forte de Caxias: notas de
cativeiro» assinado por Mário de Oliveira. Quanto ao último trata-se
de «A derrota dos telégrafo-postais na greve de 1920» de Luís Gon-
zaga Monteiro.
Cândido deOliveira serviu-se das suas notas coligidas durante o aceso
da luta e, posteriormente, nos períodos de prisão a bordo do
Louren-
ço Marques
e no presídio militar da Trafaria. Contou ainda com os
dados fornecidos por outros dirigentes daassociaçãode classeque inte-
grava, Santos Valente, Sande Freire e Leite Ribeiro. Previne, no entan-
to, logo no prefácio, que a omissão de muitos outros nomes que con-
tribuíram para o desenvolvimento da luta se ficou a dever à necessi-
dade do segredo a fim de evitar as represálias esperadas.
Quanto às principais causas da greve refere, emprimeiro lugar,as cir-
cunstâncias adversas decorrentes da entrada de Portugal na guerra
e o facto de não ter havido,inicialmente,a exigência de aumentos de
salário face ao galopante aumento do custo vida.Mas,a curto prazo,
a insustentabilidade dos salários torna-se premente.
Assim, em 6 de Abril de 1917, na Central Telegráfica de Lisboa, Santos
Valente elabora uma petição a enviar ao presidente da Mesa da
AssembleiaGeral daAssociaçãodeClasse,solicitando-lhea convocação
de uma reunião magna da classe telégrafo-postal a fim de se toma-
rem resoluções acerca da exigência de um aumento temporário nos
vencimentos «…a exemplo do que outras Classes já conquistaram.»
Esta petição foi assinada por 36 funcionários e a Assembleia Magna
Greve telégrafo-postal de 1917: os grevistas da administração geral presos no Forte de Caxias, acervo iconográfico da FPC.