Página 51 - Códice nº6, ano 2009

ta ou assistencialista mas que, em geral, procuravam dar uma voz às
insatisfações e objectivos de largas faixas da população.
A única forma de pressão conhecida então pelos trabalhadores era a
greve tendo-se acentuado o seu número e extensão desde 1914. Para
estemovimento evolutivo terá contribuído fortemente a fundação da
UON (União Operária Nacional) resultante do I Congresso Nacional
Operário que teve lugar emTomar emMarço de 1914. O período com-
preendido entre Junho de 1917 e Março de 1918 foi o mais agudo,
tendo-se registado mais de 200 greves das quais 171 exclusivamente
por razões salariais.
Em geral estas greves eram duramente reprimidas, os sindicatos e
associações de classe considerados ilegais e encerrados,os seus repre-
sentantes perseguidos,deportados oumortos e as levas de grevistas
aparatosamente conduzidas sob escolta militar às prisões.
No Verão de 1917 Afonso Costa, chefe do Governo em nome do Parti-
do Democrático,declara o«estado de sítio»,através do Decreto 3327
de 1 de Setembro,quedeterminaamobilizaçãode todos os funcionários
do Estado,o que equipara qualquer grevistaà figura jurídica do deser-
tor e traidor à pátria.
Seguiu-seumagrevegeral de solidariedadeque seestendeuna região
de Lisboa à margem sul do Tejo.
É no âmbito desta situação e coincidindo comela que se dá a primeira
greve telégrafo-postal,emqueos grevistas sãomobilizados semexcluir
as mulheres, sendo presos sob alçada militar no navio
Lourenço Mar-
ques
ao largo doTejo e emvários fortes pelo País,acusados de traição.
Este clímax grevista e a dura repressão que se lhe seguiu impressionou
fortemente a sociedade portuguesa, levando ao descrédito do Par-
tido Democrático no poder e do seu líder Afonso Costa, que suscitou
a ira das classes populares que o apodaramde«racha-sindicalistas»
e «inquisidor-mor do povo português».
Em 5 de Dezembro de 1917 Sidónio Pais toma o poder, iniciando o seu
consulado pessoal mais tarde conhecido por sidonismo ou República
Nova, com o apoio mais ou menos expresso do partido União Repu-
blicana a que pertencia, de largos sectores monárquicos, da Igreja e
outras forças conservadoras mas também de muitos sectores popu-
lares cansados da estéril luta parlamentar e da miséria crescente.
Depressa,porém,estas ilusões se desfizeramno seiodas classes popu-
lares,pois estaexperiênciapolíticaproto-fascistade partidoúnico veio
a revelar-se ainda mais dura ao promover, na sequência da greve
geral de 18 de Novembro de 1918 preparada pela UON, o encerramen-
to dos sindicatos e a deportação para os presídios africanos (nomea-
damente emAngola) dos dirigentes sindicais sem julgamento ou culpa
formada.SegundoBentoGonçalves terãopassadopelas cadeias epre-
sídios,durante este período,mais de 20000pessoas.Apesar da cares-
tia crescente e da crise das subsistências Sidónio toma, entre outras
medidas,a decisão de reduzir o salário dos funcionários públicos. Cria
também a Polícia Preventiva, especialmente vocacionada para a
repressão e vigilância, verdadeira antecessora da famigerada PIDE.
Em 14 de Dezembro de 1918 Sidónio Pais sofre um atentado e é morto
junto à Estação do Rossio, em Lisboa.
Em 1919, depois deste período negro, as classes trabalhadoras con-
seguem importantes avanços. Conquistam a jornada das oito horas
diárias emMaio desse ano e fundama Confederação Geral doTraba-
lho em Setembro.
Em 1920mais uma vez a classe telégrafo-postal se dispõe a efectuar
uma importante greve, com início a 3 de Março, inserida no movi-
mentomais vasto da greve do funcionalismo público. As razões desta
greve prendem-se com situações mal resolvidas no surto grevista
anterior de 1917, entre outras, que procuraremos desenvolver segui-
damente.
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Acervo iconográfico da FPC.