46
1
Para o longo percurso histórico que antecede a implantação da República ver TEN-
GARRINHA, «Do Cabralismo à I República: a sociedade portuguesa em tempo de mudan-
ça», pp. 127-136; veja-se também SANTOS,
A Revolução Portuguesa (1907-1910)
, 1982.
2
Deste grupo o mais influente foi João Chagas, conhecido panfletário e jornalista, que se
destacou como um grande oponente à corrente contemporizadora. Foi ele um dos maio-
res organizadores da participação de civis ao lado dos militares revoltosos, cabendo aos
grupos civis os vários ataques com bombas que iam deflagrando pelas ruas de Lisboa, impe-
dindo ou dificultando a acção da Polícia e da Guarda Municipal. De acordo com Carlos
Ferrão, «todos os oficiais do Exército e da Armada, aliciados para a revolução, segundo a
declaração de um deles, o segundo-tenente da Armada Mendes Cabeçadas, que deu, de
bordo do
Adamastor
,
a cuja guarnição pertencia, o sinal para o deflagrar da revolução,
foram aliciados por João Chagas» (
Relatórios sobre a Revolução de 5 de Outubro
,
p. 15).
3
A Carbonária é o claro exemplo de comunicabilidades secretas com uma vasta ramifica-
ção sobretudo na região de Lisboa (para a acção desta associação secreta nos combates
do dia 4 de Outubro ver TELO, «Os começos do século», p. 362; ver também BAPTIS-
TA,
O Cinco de Outubro
, 1983).
4
João Franco (1855-1929) foi um influente político da fase final do regime monárquico. Come-
çou por ser deputado às Cortes em 1884 por Guimarães, integrou vários governos até che-
gar a primeiro-ministro em 1906 depois de ter fundado o Partido Regenerador Liberal.
5
José de Alpoim (1858-1916), antigo político monárquico tornou-se um dos mais activos
inimigos de D. Carlos. Depois de ter sido deputado, conselheiro e par do Reino, foi
ministro da Justiça em dois governos da monarquia constitucional fundando a facção polí-
tica denominada Dissidência Progressista, que dividiu o campo monárquico e que, a pouco
e pouco, se foi aproximando do Partido Republicano.
6
Hintze Ribeiro (1849-1907) foi deputado e par do Reino e líder do Partido Regenerador,
tendo sido por três vezes primeiro-ministro.
7
O
Vasco da Gama
foi o primeiro grande navio completamente metálico e melhor armado
ao serviço da Armada, cabendo-lhe a missão específica de proteger Lisboa, tendo sido remo-
delado em finais do século XIX, e o
D. Carlos
o maior navio de combate da época. Quan-
to aos marinheiros da guarnição dos navios, cujo desembarque foi ansiosamente espera-
do em Lisboa no dia 4 de Outubro, dispunham de espingardas de repetição
Kropatschek
e revólveres
Adams
(
ver TELO, «A terceira vaga de inovação em Portugal», pp. 382-389).
8
O tipo de governo autoritário e avesso ao diálogo imposto por João Franco veio acirrar
ainda mais os ânimos contra a Monarquia, não só naturalmente entre os republicanos mas
também entre as franjas de monárquicos progressistas. Deste clima foi também vítima a
família de D. Carlos.
9
Entre estes chefes republicanos o mais influente foi sem dúvida o Dr. Afonso Costa
(1871-1937),
que viria a ser o ministro da Justiça do primeiro governo republicano,
deputado pelo Partido Republicano às Cortes entre 1899 e 1910, embora de forma inter-
mitente, e deputado no Parlamento entre 1911 e 1926, altura em que partiu para o exí-
lio. Além de ter sido parlamentar republicano assumiu vários cargos governamentais, sendo
primeiro-ministro em três ocasiões.
10
Ver MORAIS,
Os Últimos Dias da Monarquia
,
p. 157.
11
Ibidem
,
p. 158.
12
António José de Almeida (1866-1929) foi um dos mais destacados dirigentes do Partido
Republicano, tendo sido deputado às Cortes em 1906. Foi ministro do Interior do pri-
meiro governo republicano e depois primeiro-ministro, sendo presidente da República
entre 1919 e 1923 (o único que cumpriu os quatro anos de mandato). Fundou o Partido
Evolucionista opondo-se a Afonso Costa.
13
O visconde de Ribeira Brava, de seu nome Francisco Correia de Herédia (1852-1918),
antigo monárquico filiado no Partido Republicano, seria um dos que iria ao acampamento
da Rotunda dar a notícia do suicídio do almirante Cândido dos Reis (1852-1910), o chefe
militar da revolta, que se convencera que o movimento iria fracassar. Quanto ao líder civil
republicano, o Dr. Miguel Bombarda (1851-1910), tinha sido assassinado, pela mesma
ocasião, por um alienado.
14
Ver MORAIS,
Os Últimos Dias da Monarquia
,
p. 158.
15
O pequeno vapor tinha o nome de
D. Luís
,
e partira atrasado da margem sul porque o
comboio que transportava o rei e seus familiares desde Vila Viçosa tinha sofrido um aci-
dente ferroviário que nunca foi totalmente explicado.
16
O número de impactos de balas detectado na carruagem onde viajava a família real e nas
paredes em redor demonstra que vátios atiradores alvejaram o rei. No meio da confusão
que se gerou acabaram por fugir, morrendo os principais carbonários do grupo: Alfredo
Costa e Manuel Buíça.
17
O marquês de Soveral, figura cimeira da diplomacia portuguesa de finais do século XIX
e princípios do século XX, encontrava-se então em Lisboa, tendo ido esperar a família
real ao cais onde atracou o vapor vindo da margem sul (sobre esta importante persona-
gem de finais da Monarquia veja-se o estudo de GUIMARÃES,
Marquês de Soveral
, 2009).
18
O almirante Ferreira do Amaral (1844-1923) foi governador de Angola e da Índia entre
1882
e 1886, par do Reino e presidente da Sociedade de Geografia, tendo sido nomea-
do primeiro-ministro por D. Manuel para dirigir um governo de «acalmação» na sequên-
cia do regicício. Depois da implantação da República aderiu ao Partido Democrático de
Afonso Costa.
19
Ver MORAIS,
Os Últimos Dias da Monarquia
,
p. 212.
20
Ibidem
,
p. 145.
21
Para a evocação dos acontecimentos dos dias 3 e 4 de Outubro foi seguida a detalhada
descrição de Carlos Ferrão que consta nos
Relatórios sobre a Revolução de 5 de Outubro
,
pp. 17-37, e também a de FERREIRA, «Outubro de 1910, 5 de», pp. 500-504; veja-se ainda,
sobre o armamento utilizado, TELO, «Os começos do século», p. 362: «Como se sabe, de
início tudo corre mal na revolta republicana, baseada num plano que era tão irrealista
como a do estado-maior monárquico. Das sete unidades do exército que se esperava tra-
zer para a rua, só duas saem e, mesmo estas, parcialmente. Nenhum dos objectivos ini-
ciais da revolta é alcançado e, pouco depois de esta estalar, os chefes republicanos estão
em fuga e o seu comandante militar – o almirante Cândido dos Reis – suicida-se, consi-
derando tudo perdido. O que normalmente não se compreende nos estudos sobre a revo-
lução republicana é a importância que o novo armamento do Exército tem na reviravol-
ta da situação e a forma como ele contribui para a queda da Monarquia. Machado San-
tos, na realidade, teve a imensa sorte de trazer para a rua meia dúzia de peças
Schneider
de tiro rápido e algumas metralhadoras
Maxim
e elas serão um contributo decisivo para
inverter a situação.»
22
Veja-se o relatório do capitão de Artilharia José Afonso Pala, em
Relatórios sobre a Revo-
lução de 5 de Outubro
,
pp. 57-76.
23
Quanto aos oficiais experimentados nas guerras de África atente-se no seguinte: «O Exér-
cito alcança um ponto alto em termos da sua eficácia e modernização no final do reina-
do de D. Carlos, mas depois é a queda brusca. Com o regicídio e a subida ao trono de D.
Manuel II muda a política militar. O novo rei começa por desfazer o núcleo de africanis-
tas que D. Carlos tinha feito ascender e colocado nas unidades mais importantes à volta
da capital. Os africanistas tornam-se incómodos para a política de conciliação de D.
Manuel II. Alguns são afastados para as forças expedicionárias que continuam a ser
enviadas para os quatro cantos do Império, outros são deslocados para as unidades da pro-
víncia onde a sua influência pouco se faz sentir e outros simplesmente se afastam de qual-
quer atitude política activa e empenhada. O novo rei não consegue manter a relação com
o corpo de oficiais do seu pai e estes deixam de revelar o mesmo empenho na defesa das
instituições monárquicas» (em TELO, «Os começos do século», p. 361.
24
Relatórios sobre a Revolução de 5 de Outubro
,
p. 109. O Regimento de Infantaria 5 era
uma das unidades da guarnição de Lisboa que mais infiltrada estava por elementos repu-
blicanos. O relatório do tenente Ascensão Valdês, oficial desse regimento e também ele repu-
blicano e carbonário, noticia a existência dos seguintes elementos: dois capitães, quatro
tenentes, dois alferes, dezoito sargentos e quatro cabos. Todos estes simpatizantes da Repú-
blica foram por sua vez aliciando os seus soldados para a causa republicana (pp. 97-98).
25
Para os duelos de artilharia entre as peças de Paiva Couceiro e as da Rotunda veja-se o
prefácio de Carlos Ferrão em
Relatórios sobre a Revolução de 5 de Outubro
,
pp. 27-32.
26
O cruzador
D. Carlos
,
com mais de 4000 toneladas e 110 metros de comprimento, esta-
va armado com várias metralhadoras e tubos lança-torpedos, destacando-se os seus cinco
canhões de calibre 152 mm e oito de calibre 120 mm, dispondo ainda de telegrafia sem
fios (ver TELO, «A terceira vaga de inovação em Portugal», pp. 389-390). Carlos da Maia,
depois de ter tomado o quartel de Marinheiros em Alcântara na noite de 4 de Outubro,
assaltou o navio, colocando-o ao serviço da República. O cruzador recebeu depois o nome
de
Almirante Reis
.
27
Sobre as características dos cruzadores ligeiros
Adamastor
e
S. Rafael
ver TELO, «A ter-
ceira vaga de inovação em Portugal», pp. 389-390.
N O T A S