Página 30 - Códice nº6, ano 2009

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Com a prisão de elementos destaca-
dos domovimento republicano e como
exílio de outros emEspanha,João Fran-
co prepara umdecreto repressivo para
acabar de vez com as intentonas e a
agitação. Esse decreto é assinado em
VilaViçosapor D.Carlos,numaalturaem
que os radicais do chamado «Grupo
dos Dezoito»,chefiado por Alfredo Luís
da Costa, se reúne numa casa em
Xabregas e assenta nos pormenores
dos atentados contra D. Carlos e João
Franco
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.
Esse atentado estava apa-
rentemente jádecididodesdeháalgum
tempo, não sendo por isso uma con-
sequência directa da assinatura do rei
parao incrementoda repressãomonár-
quica.
O plano era simples: sabendo-se que
o vapor que trazia a comitiva real atra-
caria noTerreiro do Paço
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,
e que depois o automóvel de serviço toma-
ria o caminho do Paço das Necessidades passando pela Rua do Arse-
nal, umgrupo armado postou-se no local e aguardou omomento do
ataque. Afinal o automóvel real foi substituído, à última hora, por
um «landau», uma lenta viatura descoberta puxada por cavalos. A
pequena brigada carbonária de vários atiradores
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integrava Alfredo
Costa e Manuel Buíça, este usando uma carabina.
Os factos são muito bem conhecidos: no dia 1 de Fevereiro, D. Carlos
e D. Luís Filipe são mortos a tiro, tendo o príncipe real ainda abatido
Alfredo Costa.Este seria tambémalvo de uma cutilada de sabre do ofi-
Largo de S. Carlos e ali se filiam no Par-
tido Republicano
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,
que entretanto ia
disseminando os seus centros de reu-
nião em vários pontos do País.
O princípio do fim
O clima conspirativo foi-se adensan-
do, com um grande empenhamento
dos membros da Carbonária. Estes
tinham propósitos mais extremistas,
cortando qualquer via de um possível
entendimento com os republicanos
moderados e muito menos com os
monárquicos.As suas intenções ficaram
bem claras quando trinta carbonários
da organização «Coruja» se reúnem,
emDezembro de 1907,numa casaalgu-
res na Costa do Castelo e aí planeiam
assassinar o rei D. Carlos e o ministro
João Franco
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.
Mas além dos carbonários, e talvez na intenção de não perderem a
iniciativa, outros republicanos preparam comafinco a eclosão de um
golpe, contando com certos apoios de unidades militares. Um comi-
té revolucionário republicano preparou então umgolpe para finais do
mês de Janeiro de 1908, mas os planos foram descobertos. Vários
conspiradores foram presos pela polícia, entre eles António José de
Almeida,Luz deAlmeida e JoãoChagas
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,
e poucos dias depois são deti-
dos outros vultos republicanos e alguns monárquicos progressistas
dissidentes, entre os quais Afonso Costa, Egas Moniz, Álvaro Poppe
e o visconde de Ribeira Brava
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.
O rei D. Carlos, retrato a óleo de Ernesto Condeixa, 1890, Museu do Chiado.