tra a venda de novas indulgências para
aquele fim. Porém,a ela não pôde esca-
par D. Manuel, ao requerer através do
seu embaixador em Roma a tal bula de
dispensação tão necessária à legitimi-
dade do seu casamento.
A instrução do rei português fora para
que D. Miguel da Silva gastasse «até
oito ou dezmil cruzados se tanto se hou-
ver mister despender nisso», contudo
«
vós, como sempre nos servis tanto a
nosso prazer, vede se isto se pode fazer
grátis ou aomenos compouca cousa»
72
.
Sobre a entrevista para o pedido daque-
la bula pelo futuro bispo de Viseu ao
papa Leão X, o embaixador português
narrava que «Sua Santidade não se
espantou nada porque havia quatro ou
cinco dias que o Núncio lhe escrevera
fumo disto, mas mostrou tanto prazer
que cuidei certo que me havia de des-
pachar tornando-me em cima dinhei-
ro
.
»
73
De facto,D.Miguel relatava que o
papa «respondeu-me que era conten-
te e que a dispensação se fizesse, mas que aparelhasse muitos mil
ducados»,ao que respondera o embaixador:«que cria que Sua San-
tidade zombava e me queria fazer estimar mais a graça, pois se me
em falar de siso e pedia quinzemil ducados, então de sisomais pedia
que me fazia medo.» Depois de muita negociação, «por derradeiro
desceu a quatro mil, jurando-me de verdade que por menos um real
a não havia de haver e dizendo-me que
lhemostrasse a carta de Vossa Alteza e
que me prometia de me quitar dois mil
ducados da comissão que por ela me
dava», o qual o embaixador ponderou
que «não lhe podendomostrar a carta
queme tantomais larga comissão dava
[...]
nãome pareceu desserviço deVossa
Alteza aceitá-la a bula e acerca da paga
disse que eu não tinhamais de três mil;
que aprouvesse a Sua Santidade os mil
descontar da dívida que me devia. Foi
disso contente e assim houve a bula».
Informava ainda D.Miguel,que a reme-
teria à corte de Castela por um correio
expresso, conforme as ordens recebi-
das eque«se for comtamanhapresteza
como aqui foi despachada emandada,
bem irá,que nunca se viu emummesmo
dia haver o correio e despachar bula, e
despachar outro» correio
74
.
Finalmente e depois de tantas peripé-
cias, consumou-se o casamento em
Novembro daquele ano de 1518. Porém,
foram prematuramente logrados os intentos iniciais do rei portu-
guês devido ao seu falecimento três anos depois, a 13 de Dezembro
de 1521. D. Manuel chegou ainda a ter uma filha desse casamento, a
cultíssima infanta D. Maria, personagem importante do Renasci-
mento português do século XVI e possível musa inspiradora de
Camões
75
,
falecida em 1577.
21
Correio do século XVI.