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mentos»
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.
Seria esta uma solução de
consenso paraambas as Coroas,apesar
do mal-estar gerado nalguns sectores
mais próximos do príncipe D. João, pos-
tura essa bem exemplificada pelo caso
de D. Luís da Silveira – seu conselheiro e
futuro conde de Sortelha – que aca-
bou sendo desterrado da Corte por
D. Manuel, por haver patenteado o seu
desagrado
70
.
Não ficariam por aí os entendimentos
sobre esse casamento. O embaixador
Álvaro da Costa confirmara a D.Manuel
a ideia já ventilada por Pedro Correia de
que seria necessário fazer uma consi-
derável despesa comos conselheiros do
rei espanhol para a viabilização daque-
le enlace. Assim sendo, D. Manuel ins-
truiu o seu embaixador em Castela por
carta régia de 28 de Abril do mesmo ano de 1518, que «posto que em
nossas cousas não tenhamos este costume como sabeis,peropeloque
nisso vos temos mandado que fizésseis e tendes feito e falado com
o Chanceler, e pelo ponto em que este negócio já está e porque mais
prestes se conclua,nós havemos por bemde aChièvres e aoChanceler,
fazermos mercê de vinte mil cruzados
.
»
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Entretanto, haveria ainda mais uma outra despesa significativa,
sendo agora para com o célebre papa Leão X, que naquele tempo se
achava empenhado emobter maiores recursos para poder concluir a
Basílica de São Pedro e também decorá-la com a arte mais preciosa.
Teria sido esta,aliás,umadas razões da reacção deMartimLutero con-
sua irmã; e foram os poderes que lhe
deu tão largos e sem limite,que primei-
ro se soube em Portugal estar concluí-
do, que começado
.
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»
No entanto e apesar de ter prevalecido
essa versão na historiografia portu-
guesa sobre o inesperado desfecho
desse casamento,já que originalmente
o enlace seria com o sucessor de
D.Manuel, o príncipe D. João,a verdade
é que a proposta de casamento com o
próprio rei português foi originalmente
sugerida pela corte espanhola.De acor-
do com as instruções recebidas por
D. Miguel da Silva – embaixador portu-
guês em Roma e encarregado de obter
junto ao papa Leão X,a bula de dispen-
sação para aquele casamento, exigida
por causa da consanguinidade dos noi-
vos –, D. Manuel afirmava claramente que a iniciativa da oferta par-
tirade Castela.Através da carta régiade 29deMaio de 1518,informava
o rei português ao futuro bispo de Viseu, D.Miguel da Silva, que Álva-
ro da Costa, ao visitar o rei espanhol, «se ofereceu lhe ser lá falado
em casamento da Infanta Dona Leonor, sua irmã,
connosco
»
argu-
mentando omonarca,que«por nos parecer pelos impedimentos que
havia e até agora há nos casamentos de meus filhos, [...] quisemos
nisso entender e aceitar o quanto da parte de lá nos foi falado e
requerido». Acrescentava ainda,que comunicasse ao papa que«fol-
gamos de entender neste casamento para que fomos requerido,
quando para outras cousas se nos apresentaram grandes impedi-
Correio português do século XVI.