Página 9 - Códice nº6, ano 2009

9
relações diplomáticas entre a Corte Portuguesa e a Casa da Áustria.
Tais relações terão ainda como consequência um constante inter-
câmbio de correspondência epistolar entre Portugal e a Flandres, em
que Luís Homem também veio a participar como mensageiro real.
Será nesse contexto que D. Manuel enviará em finais de 1514 à corte
do seu primo direito, o imperador Maximiliano de Habsburgo (eram
ambos netos do rei D. Duarte), o feitor da então opulenta e podero-
sa Casa da Índia,Tomé Lopes de Andrade, comamplos poderes sobre
a feitoria portuguesa de Antuérpia
25
.
Esta missão tinha como objec-
tivo negociar comos grandes potentados do comércio e das finanças
alemães (Fugger,Hochstetter eWelser),o fornecimento de cobre para
suprir as necessidades das armadas da Índia e do comércio oriental.
Visava também tratar de questões políticas junto ao imperador rela-
tivas às negociações sobre o casamento da infanta D. Leonor, sua
neta, com o príncipe herdeiro português, D. João e da irmã deste,
D. Isabel, com o seu outro neto e futuro imperador, o arquiduque
Carlos de Áustria
26
.
Tomé Lopes de Andrade – já referenciado no início deste artigo – tinha
sido feitor emAntuérpia entre 1498 e 1505, justamente no tempo em
que chegaramàquela cidade os primeiros navios portugueses carre-
gados de especiarias asiáticas e quando por isso ali se firmou o pri-
meiro contrato de venda daquele produto na região,no ano de 1503
27
.
Mercador experiente e arguto diplomata, era muito considerado na
corte deBrabante e foi por issoparaaí enviado como embaixador entre
1509
e 1511, tendo negociado o importante acordo que concedia o
estatuto de «nação mais favorecida» aos portugueses residentes
naquela cidade, ficando igualmente garantida uma casa para sede
da feitoria,mediante uma doação damunicipalidade de Antuérpia.
28
Quandoda sua chegadaàAugsburgoemMaiode 1515,Tomé Lopes refe-
re em carta a D. Manuel que: «Quando passei por esta cidade para ir
ao Imperador, os governadores dela e assim os Fugger, Hochstetter,
Welser e todas as outras companhias emercadores,me fizerammuita
honra eme enviarammuitos presentes;e assimo fizeramquando tor-
nei com o Imperador.» Nesta mesma carta, numa clara alusão ao
prestígio que Portugal alcançara na cena internacional daquele
tempo, concluía: «O Imperador toma grande passatempo em saber
das cousas da Índia e dos reis que são sujeitos aVossa Alteza,e há por
mui grande feito a guerra de África, assim no Reino de Fêz, como no
deMarrocos, sobre quemuitome temperguntado tudo. Os senhores
epovos não falamemnenhuma cousa tanto,comoemestas conquistas
de Vossa Alteza.
29
»
Já em Agosto do mesmo ano de 1515 Tomé Lopes
comunicava a D. Manuel que aguardava a chegada do imperador,
que vinha de Viena, para se despedir
30
e seguir para Bruxelas, onde
se avistaria com o neto de Maximiliano, o arquiduque Carlos de Áus-
tria, soberano dos Estados de Brabante e herdeiro presuntivo do
trono de Espanha,por ser o filhomais velho de Joana«a Louca»e esta
a única filha dos Reis Católicos.
No entanto, pouco depois, a 23 de Janeiro de 1516, o rei espanhol,
Fernando o Católico, viria a falecer, causando grande apreensão na
corte portuguesa,manifestada através das cartas régias datadas de
1
de Fevereiro daquele ano e enviadas aos governadores das dife-
rentes fortalezas do Reino para que as guardassem e velassem com
toda a segurança e cuidado
31
.
A sucessão ao trono de Castela reve-
lou-se uma questão delicada visto a herdeira directa, Joana «a
Louca», estar internada em Tordesilhas como incapaz e o seu jovem
filho e herdeiro Carlos, então soberano de Brabante, se encontrar
em Bruxelas. Pelo testamento do falecido rei ficava nomeada uma
regência para governar em nome do seu neto, o arquiduque de Áus-
tria,até à sua chegada a Castela para ser jurado emCortes,conforme
a tradição espanhola. Contudo, os acontecimentos precipitaram-se e