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os caminhantes e se privilegiavam os estalajadeiros, estimulando
assim a criação de estalagens
73
.
Nas cartas de estalajadeiro estão patentes vários motivos para
implantar estalagens, desde as necessidades dos viajantes até ao
carácter de nó da circulação para feiras ou santuários de alguns dos
locais onde asmesmas surgiram. A título de exemplo,citem-se alguns
casos,do reinado de D. João III (1521-1557),monarca que confirmou 32
cartas de privilégio e outorgou 192. Domingos Gonçalves, com esta-
lagem em Ferreiros (Ferreiros do Dão, Tondela), referiu que o local
tinha estrada de muita passagem
74
.
Afonso Galego, do Alandroal,
afirmou que a sua estalagem se situava «em grande estrada e cor-
rermuitagente por ali»
75
.
Francisco Lopes,por seu turno,salientouque
São JoãodaPesqueiraeraumavila comduas barcas demuitapassagem
e com muitos mercadores
76
.
Simão Manuel, de Quintela (Arouca),
referiu que por ali passava uma estrada pública que vinha de Lame-
go,Vila Real e Braga e ia para Arouca. Aomesmo tempo que também
passava uma outra, que fazia a ligação ao Porto e a Pavia
77
.
Pero
Eanes,deVilar de Porcos (Vilar do Pinheiro,Vila do Conde), considerou
ser local «por onde corriam muitos caminhos para Santiago, Barce-
los eVianade Caminha,Ponte de Lima e para todo o reino daGaliza»
78
.
Álvaro Pires, com estalagem em Chosendo (Sernancelhe), lembrou
que «pelo dito lugar passava uma grande estrada que ia do Porto e
deVila do Conde e de Aveiro e de outras partes para os reinos de Cas-
tela
scilicet
para as feiras de Medina e de Villálom e para a cidade de
Salamanca a qual estrada ia ter ao porto de Freixo de Espada à Cinta,
Miranda e Almeida o qual lugar de Chosendo estava em terra mon-
tanhosa»
79
.
Emprincípio,aoestalajadeiro competia ter sempreàdisposiçãodo vian-
dante pão, vinho, carne,pescado e camas,bemcomo cevada e palha
para as cavalgaduras. Estas obrigações estavam dependentes da
deveria recuar. Não obstante estes esforços de racionalização do
trânsito, sabe-se que as normas não foram cumpridas
68
.
Nos rios e no mar, o recurso a embarcações de pequenas dimensões;
à vela ou a remo, cujas características não são sempre de todo explí-
citas
68
,
tornavam o transporte mais fácil e, em princípio, mais segu-
ro,excepto nas épocas de ataques corsários. EmPortugal,as vias flu-
viais emarítimas eramsobretudo percorridas por navios de vela:naus,
galeões, caravelas redondas, caravelas antigas meãs, patachos e
galizabras, a par de navios de remos: galés, galeotes, bergantins e
pequenas barcas diversas
70
.
EmLisboa,noprincípiodo séculoXVII,nove-
centos barqueiros trabalhavam no Tejo
71
.
1.2.4.
Percursos e alojamentos
A realização de qualquer viagem terrestre tornava patente a
necessidade de seguir um itinerário determinado, para que o per-
curso empreendido passasse por locais onde se pudesse pernoitar
em segurança. Havia também que combinar o itinerário escolhido
com a velocidade que, como se sabe, não era muita, oscilando
entre os 25 e os 60 quilómetros diários, tudo dependendo do cami-
nho, da natureza do solo, da época do ano e do meio de transporte
utilizado.
Aos viajantes importava dormir, comer,adquirir alimentos para a via-
geme bemassimdescansar e alimentar asmontadas,no caso dos que
se deslocavamembestas.Como já na IdadeMédia se começara a veri-
ficar,oencargodaaposentadoria,que só recaía sobrealguns,tornava-
-
se cada vez mais penoso, levando a muitas denúncias de abusos
72
.
Foram, assim, nascendo as primeiras estalagens, locais de abrigo
para os viajantes, com o desconforto de terem de pagar a respecti-
va estada. De qualquer modo, a opressão dos povos diminuía, ao
mesmo tempo que se começava a sentir a necessidade de favorecer
Pormenor do rio Tejo com embarcações de tipologias diferentes numa vista de Lisboa, século XVII, de autor desconhecido.