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e Londres. Os coches dos
fidalgos e dos titulares são
magníficos e ordinariamente
são puxados por seis cava-
los ou seis mulas. Os dos
outros não podem ter mais
de dois destes animais»
64
.
No final da centúria,Carrère,
umviajante francês,foi ainda
mais crítico em relação aos
transportes portugueses:
«
Em Lisboa só existem três
tipos de carruagens: os
coches, as seges para trân-
sito na cidade e as seges de
viagem. Os coches que existem são poucos; os melhores pertencem
ao corpo diplomático e a alguns negociantes. Os da corte e os de
alguns grandes senhores são muito antigos, mal vedados, pesados,
vagarosos, semornatos ou comornatos fora demoda. As carruagens
emmaior número são as seges de dois lugares,suspensas por correias,
puxadas por dois cavalos ou duas mulas e conduzidas por um posti-
lhão,a que chamamboleeiro.Abreme dão entrada pela frente,encer-
rando-se por meio de duas cortinas de couro. Estas seges são desa-
gradabilíssimas, nelas se fica muito apertado e quase enterrado.
NoVerão correndo-se as cortinas de couro,atabafa-se,mas,se as con-
servamos abertas, torra-se ao sol e fica-se coberto de poeira.
No Inverno,por muito cuidado que haja emas fechar, fica-se sempre
exposto ao frio,ao vento e à chuva.E não há outras carruagens,e nem
ao serviço dos grandes, dos particulares ou dos que as alugam se
encontrammelhores»
65
.
O sueco Ruders, igualmente
no final do século XVIII, tam-
bém se manifestou critica-
mente acerca dos transportes
portugueses: «Nos países
quentes os carros devem con-
tar-se entre as comodidades
que dificilmente se podemdis-
pensar. Mas, em Portugal, a
moda tirana exige, além disso
que as visitas quer sejam por
motivo de negócio quer de sim-
ples cortesia, se façam sem-
pre de carro. As senhoras de
elevado posição voluntaria-
mente não passeiama pé pelas ruas; e os fidalgos, se alguns se mos-
tram, uma vez por outra, caminhando na cidade, trazem sempre a
carruagem a acompanhá-los»
66
.
Finalmente, o alemão Link obser-
vou, referindo-se à zona de Vilar da Veiga: «em toda a região não
se pode viajar, as pessoas mais fracas e as mulheres viajam aqui,
como emmuitos outros sítios de Portugal montanhoso, em liteiras
que tal como na Alemanha são puxadas por dois cavalos ou por duas
pessoas»
67
.
As dificuldades de locomoção na capital tiveram também conse-
quências ao nível dasmedidas legislativas. As primeiras tentativas de
regular o trânsito dataramde 1686,algomuitomoderno paraa época.
A discussão da primazia da passagem– em ruas emque só cabia uma
viatura – foi punida coma prisão. A solução prática do problema ficou
evidenciada de duas maneiras: nas ladeiras deveriam recuar os que
iam a subir, nas ruas planas foram colocados marcos a indicar quem
Coche do casamento do príncipe D. José com D. Maria Francisca Benedita, 1777. Viatura de aparato.
Casal transportado em liteira, início do século XIX.