longe! hei-de olhá-la também./ Assim
minha alma encontrar-se-á lá com a
tua!/ E quem se encontra filha! é por-
que se quer bem.»(28/1/1906) «A rosa
expõe a face esbelta e delicada/ aos
afagos da aurora/ E sente-se feliz ao
ver-se mergulhada/ No pranto que ela
chora/ Eu,como a rosa,exponho o cora-
çãomagoado/ Aos teus carinhos, flor! E
vivoalegrementeao sentir-mebanhado/
Na luz do teu amor.» (10/2/1906) «Ao
ver-te meiga e formosa/ nas tuas rou-
pagens pretas,/ Eu cuido ver uma rosa/
numbouquet de violetas.» (26/4/1906)
«
Saudades que me vão na alma/ Nin-
guémas pode contar/ São tantas como
as estrelas,/ Como as areias do mar.»
(7/5/1906) «
Placidamente bate-me no
peito/Meu coração que tanto tembati-
do!/ E para mim, inda este mundo é
estreito/ Pra conter tudo quanto eu hei
sofrido!» (27/5/1906).«Mal sabes,nem
eu posso descrever-te/ estaminha fatal
melancolia; / Nãome lembra de ver rom-
per o dia:/ Nesta alma é sempre noite!
Mas ao ver-te,/ porque será que amimseme converte/ A noite em luz
eamágoaemalegria?/Não serás tuo sol quemealumia?» (20/7/1906)
«
O meu coração é teu;/ Se quiseres matá-lo podes./ mas crê que
resides nele/ E se o matares também morres!» (Setembro 1906)
«
A Ausência é irmã da saudade/ quando se ama muito a pessoa
ausente!/ Saudades»(25/10/1906)«Que
triste que estou nesta hora/ De des-
conforto fatal!/ Como asilo sepulcral,/
Onde um sorriso não mora!/ Parecem
meus tristes ais/ Prantos denoite sembri-
lhos,/ Lamentos d'aves sem filhos/ Nas
franças dos ciprestais» (9/3/1907).
Os versos do que parecia ter sido um
amor infeliz caminhavam para um cres-
cendo de dor: «Os sonhos perfumados
de criança/ Eram tudo ilusões e vã chi-
mera!/ Acabou-separamimtodaaespe-
rança/ - Amorte,anegramortequemma
dera!...». Não tinhamuma assinatura e
mesmo assimo Sr. X procurava desespe-
radamente a destinatária daquele amor
no dédalo demilhares de cartas. Raquel
a quem Jayme só conseguia escrever em
verso, devia ter sido bela, como os seus
olhos de estrelas escuras. Durante dias
o Sr. X vasculhou aquele mar de cartas
que anoiteciam com o seu mistério, no
vago pressentimento de que a condição
para fazer reviver aquele casal era jun-
tar as suas escritas, um passo mais no
caminho da sua procura do amor perdido, perfeito.
Numa manhã de sol a alma de Rachel revelou-se em todo o seu ful-
gor,pelomilagre da poesia, respondendo comovidamente aos versos
do amado, e também perdoe-se a vulgaridade, pelo carimbo da sua
terra:«Hoje a ver uma andorinha/ a embriagar-se de luz,/ voar, voar,
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