do lia uma carta e decorava as palavras
mais românticas: «Eu estou anciosa por
ser tua noiva, não é por nada, é simples-
mente para ver se gosto de me ver assim
mascarada, não é mais nada repito (Pois
não!!). É mas é para eu ter o meu Fernan-
dinho seguro, ter então a certeza que ele
é bem meu, e viver com ele toda a vida!
Mas quando meu Deus, serei eu merece-
dora de tão grande felicidade?»
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Ofélia
parecia responder a Fernando que uns dias
antes lhe escrevera: «Bebé, vem cá, vem
para o pé do Nininho; vem para os braços
do Nininho; põe a tua boquinha contra a
boca do Nininho... Vem...Estou tão só, tão
só de beijinhos...»
7
.
Ofélia escrevia a Fer-
nando naqueles postais onde se derra-
mara o sentimento de todo um século, de
tantos e tantos casais que o tempo se
empenhara em separar, o que restava da
sua alma, dispersando nos mais obscuros
recessos da cidade, aos quatro ventos, as
palavras trémulas e cheias de amor. Um
carinho assim, tão intenso e tão cheio de
inocência era tudo o que Blanche deseja-
va vir a conhecer. Precisava de outras car-
tas que lhe trouxessem emoções semelhantes.
Albano
e
Berta
devem ter guiado os seus passos a uma velha emuito
escura livraria onde umvelhote de olhar umpouco lúbrico lhe revelou
ohalo luminosoedeslumbrantedapaixãodestes dois seres.Aumcanto
da comprida e sombria divisão as car-
tas brilhavam com uma luz quase
cegante. A palavra paixão podia bem
utilizar-se naquele caso,uma palavra
cujo sentido era então quase desco-
nhecido, mas que vinha ressuscitar
aquela delicada escrita. O amor em
toda a sua plenitude, total e louca
entrega do corpo e do espírito estava
naquelas cartas. Albano confessava:
«
Querida Berta: O grande amor que
por ti sinto arranca da minha alma os
desejos mais insuportáveis. Eu queria
ter-te, sempre, muito junto de mim!
E no meu olhar, na febricitude dos
meus carinhos, na contínua ardência
dosmeus beijos,noestremecimentoda
minha voz, no nervosismo de todo o
meu ser e até mesmo na minha respi-
ração, tu verias como eu quero sorver
do teu corpo a tua vida, morrendo
ambos num celestial prazer. Beijos do
teuAlbano.» (14/9/1912) «Sabes como
eu queria agradecer-te a felicidade
que recebo de ti e todas as gentilezas
que tens para a minha alma sedenta
dos teus encantos eapaixonadadas tuas virtudes? Envolvendo-te toda
numa carícia muito grande; e que essa carícia fosse de tal maneira
embriagadora, que começando num beijo muito fundo, depois de
nos transportar a uma outra vida,ao voltarmos à realidade e à recon-
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