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se veio a transformar numa potência marítima, usou a escrita púni-
ca que se espalharia pelo Norte de África e possessões cartaginesas,
incluindo a Península Ibérica,até aomomento emque Roma se impôs
a Cartago. No Sul da Península Ibérica começou ainda a ser usada, a
partir do século VII a. C., a chamada «escrita do Sudoeste», de ins-
piração fenícia e grega, que ainda não foi decifrada, tendo algumas
das inscrições sido encontradas em território português (Alentejo e
Algarve).
Entre as escritas herdeiras do cananaico sublinhe-se o hebraico, ou
melhor, o hebraico antigo,que não deverá ser confundido como pos-
terior desenho gráfico do hebraico quadrado, e depois o samaritano,
datando do século V a. C. os mais antigos documentos neste tipo de
escrita,o qual semanteve,num círculomuito restrito,até hoje. Coevo
do hebraico antigo é o moabita, do qual temos escassos vestígios,
sendo de notar que o único documento conhecido da escritamoabi-
ta,usadano reino deMoab,a leste do rio Jordão,é demeados do sécu-
lo IX: a estela do rei Mechá.
A par do fenício e do cananaico, umoutro sistema gráfico aparenta-
do viria a ter uma grande projecção, o aramaico, o qual, como língua
e como forma de escrita, acabou por substituir o acádio como língua
franca em todo o Próximo Oriente e ganhou grande preponderância
durante o I milénio a. C. A escrita aramaica foi usada desde o Egipto
até à Pérsia Aqueménida, por decisão dos reis neo-assírios e persas.
Do aramaico derivaram várias escritas que, no essencial, se asseme-
lhavamno desenho das suas letras:ohebraico quadrado,o siríaco (com
diversas modalidades), o moabita, o nabateu (de onde derivou a
escrita árabe), etc.
O hebraico quadrado é uma variante gráfica mais elegante do ara-
maico, com 22 letras que, tal como outras escritas do ramo semita do
Norte de tipo consonântico, se dispõem da direita para a esquerda.
Uma das soluções encontradas para facilitar a leitura vocálica foi a
introdução de pontos diacríticos (sistema de Tiberíades). Saliente-
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se, no entanto, que o hebraico quadrado foi durante muito tempo
ofuscado pelo uso muito mais difundido da escrita aramaica.
A escrita sogdiana, derivada do aramaico, e utilizada na zona orien-
tal do planalto iraniano, temos seus documentosmais antigos em312-
-313
d. C. Outra escrita menos conhecida foi a maniqueia, usada no
século III pelos membros da seita dos Maniqueus expulsos da Pérsia.
No século I a. C. surgem a escrita nabateia (cujos principais vestígios
vieramde Petra,a capital do reino nabateu) e a escrita palmirana (na
Síria do Norte, hojeTadmor), ambas derivadas dos signos aramaicos.
Os signos nabateus diferemdos seus protótipos aramaicos não ape-
nas no desenho das letrasmas pelo uso generalizado de ligaduras que
encadeiam as palavras.
Mais difundida foi a escrita siríaca, surgida a partir do século II d. C.,
usando as 22 letras do alfabeto aramaicomas comumdesenho dife-
rente, tendo servido para redigir os textos religiosos dos cristãos da
Síria. Uma outra escrita derivada do aramaico foi o palevi, criada em
finais do I milénio e que esteve em uso durante o domínio arsácida e
sassânida no planalto iraniano e na Mesopotâmia.
Quanto à escrita árabe, uma das mais conhecidas e utilizadas nos
tempos actuais, é uma adaptação do alfabeto nabateu, e surgiu a
partir do século IV d. C. Possui 28 letras,mais seis que o clássico alfa-
beto aramaico, e algumas letras são unidas por ligaduras na escri-
ta da direita para a esquerda. O desenho da maioria das letras varia
consoante surjam como independentes, iniciais, mediais e finais. A
escrita árabe continua hoje a ser usada para grafar outras línguas
como o farsi, o pastum, o urdu, o malaio, o cazaque, o somali, o
sudanês, etc., e até já serviu para escrever espanhol e português
(
aljamia).
Óstraco de calcário com um texto em escrita copta (Egipto, século VI).