Página 13 - Códice nº3, ano 2006

Isabel I de Inglaterra, estando na base da acusação de atentado
contra a vida da rainha de Inglaterra a decifração das «Casket Let-
ters», documentos autênticos ou forjados de que não restam senão
cópias e transcrições. Certo é que Maria Stuart contou, entre os seus
cortesãos,comumapersonagemfascinante,oalquimistaematemático
inglês John Dee, que cultivava a criptografia e cuja cifra permanece
inquebrável.
Outra personagem ilustre, o cardeal Richelieu ( 1585-1642 ) fazia uso
intensivo de uma grelha semelhante à de Cardano para a sua cor-
respondência secreta.
Aliás o século XVII foi profícuo emmétodos criptográficos,desde a crip-
tofonia de JohnWilkins usando anotaçãomusical,aométodo de Leib-
niz, até à grande cifra de Luís XIV, criada por Antoine e Bonaventure
Rossignol, entre outros.
O século XVIII foi o século da espionagem por excelência, multipli-
cando-se os denominados «Black Chambers»ou«Gabinetes Secre-
tos» com exemplos conhecidos na Áustria, em França, Inglaterra e,
também, em Portugal, especializados em interceptar e decifrar as
correspondências diplomáticas como já verificámos,ainda que sucin-
tamente, no primeiro capítulo.
O final deste século e todo o século XIX são principalmentemarcados
pela primeira Revolução Industrial,caracterizada,entre outros aspec-
tos, pela mecanização de muitos dos ramos da actividade humana.
A criptografia,acompanhando os sinais dos tempos,conheceu,igual-
mente, o início da sua mecanização.
Thomas Jefferson,diz-seque comaajudadoDr.Robert Patterson,mate-
mático da Universidade da Pensilvânia, inventou um«cilindro cifran-
te» (1795) especialmente vocacionadoparaa criaçãodas cifras de subs-
tituiçãopolialfabéticas.Consistianuma sériedediscos girandoemtorno
de umeixo. Ao pôr emordemos caracteres necessários à formação da
mensagemsurgiamnos restantes discos caracteres alternativos com
os quais se formava o texto cifrado.
Como desenvolvimento dos estudos sobre electricidade e a invenção
da bateria por Alessandro Volta estava preparado o caminho para a
invenção do telégrafo eléctrico,partilhada quase em simultâneo por
Morse, Cooke e Wheatstone, o que vem alterar definitivamente o
uso da criptografia, pois o telégrafo como sistema aberto que é dei-
xava de garantir a inviolabilidade da mensagem. Assim, a utilização
intensiva de textos cifrados passou a ser uma necessidade vital e
permanente para todas as mensagens de carácter oficial e, princi-
palmente, estratégico-militar.
Não será por acaso queWheatstone está também ligado à invenção
da«Cifra Playfair»,cifra digráfica com largo uso emcenários de guer-
ra
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.
Após a sua criação, em 1854, o barão de Playfair, amigo pessoal
deCharlesWheatstone,patrocinoua suaapresentaçãoàs autoridades
britânicas que a adoptaram sob o nome por que ficou conhecida.
Trata-sedeuma cifrade substituiçãopor blocos dedois caracteres (bloco
digrâmico oudigráfico) aplicadaaumagrade de 5x5 onde caberá,além
da expressão ou palavra-chave, o alfabeto nas quadrículas restan-
tes,excluindo oWe considerando só oV ou substituindo oQpor K,isto
tudo de modo a que o total considerado seja de 25 caracteres (5x5).
O texto claro deverá ser agrupado de dois emdois caracteres e usan-
do a grade e três regras básicas (as letras da mesma linha são subs-
tituídas pela que se encontra posicionada à sua direita; às letras na
mesma coluna substitui-se a que se encontrar abaixo; as letras que
se encontramem linhas e colunas diferentes serão trocadas pelas que
se encontrarem opostas na diagonal). Assim obter-se-á o texto
cifrado.
Entretanto o progresso científico e técnico acelerado do
fin-de-siècle
,
ao nível das comunicações, afirma a recém-criada TSF que vem a exi-
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Lista de códigos numéricos usados nos telegramas, finais do século XIX, arquivo histórico da FPC.