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Matos calculou, com base no estipulado no regimento de 1810, o
tempoqueumcorreio levariade Lisboaadiversas cidades doPaís,apre-
sentando-nos os seguintes resultados:aBragança – quatrodias eduas
horas;ao Porto – três dias;a Évora – umdia e duas horas e a Faro – dois
dias e três horas.
32
Em 1783, o correio da Universidade António do
Amaral levou sete dias no percurso de Lisboa a Miranda e regresso a
Coimbra.
A utilização pela Coroa de correios expressos verificar-se-ia,no entan-
to,apenas emcircunstâncias especiais atendendoaos custos queacar-
retavam para a Fazenda Régia.
A correspondência oficial circulava assim nos giros do correio ordiná-
rio, cuja fluidez era condicionada pelo estado das vias de comunica-
ção como testemunhava,em1794,o Juiz de Fora de Recardães ao dizer
que o «represamento [….] dos Correios das Secretarias, e o Geral do
Reino» se devia ao mau estado das estradas. Esta situação agrava-
va-se nos meses de Inverno. Em 1758 ,o pároco deMontemor-o-Velho
dava a seguinte reposta à pergunta do inquérito referente a correio:
«
Tem correyo mas derivado de Coimbra da qual dista quatro legoas
enamsinco como seachouemalgumchoronista.Parteá segunda feira
reios aparecem a traço duplo e são os seguintes: Lisboa - Porto; Lis-
boa - Caldas da Rainha; Lisboa - Castelo Branco; Lisboa - Elvas; Coim-
bra - Almeida,passando por Viseu e Pinhel;Golegã - Alvaiázere;Mon-
temor-o-Novo - Faro (passando por Évora e Beja); Silves - Vila Real de
Santo António.Donde decorre que o Estado custeava apenas os eixos
Lisboa - Porto e Silves - Vila Real de Santo António; e as ligações com
a fronteira espanhola (Almeida, Castelo Branco, Elvas, Vila Real de
SantoAntónio),sendo financiadas pelas câmaras oupelos correios assis-
tentes todas as rotas postais situadas nas regiões de Entre - Douro
e Minho e Trás-os-Montes, bem como todas as existentes no interior
do País,nomeadamente aquelas que irradiavamde placas giratórias
como era o caso de Viseu, Estremoz e Beja.
Do atrás exposto decorre que os poderes locais continuavama ter,em
vésperas da Revolução Liberal, um papel decisivo em matéria de cir-
culação do correio nos espaços mais periféricos e consequentemen-
te menos integrados politicamente.
Umdos critérios utilizados paramedir o«tempo do Estado»é o núme-
ro de dias necessários para fazer chegar a correspondência aos diver-
sos lugares dos países,nomeadamente aos mais recônditos
30
.
Ora se
tomarmos como verdadeira a informação de Francisco Coelho de
Sousa Sampaio expresso na obra
Prelecções de Direito Pátrio
,
publi-
cada em 1793-1794,«mediavam trêsmeses entre a publicação das leis
e o conhecimento do seu conteúdo em todo o Reino».
31
A lentadifusãodos diplomas régios não se explicaráapenas pelas insu-
ficiências da rede postal,devendo-se sobretudoaos problemas de fun-
cionamento da burocracia régia. Comefeito,amaioria das paróquias
do país, a acreditar no testemunho dos párocos, já eram servidas em
1758
por um correio semanal. Por sua vez, os diversos organismos do
poder central poderiam recorrer a correios expressos capazes de levar
a correspondência oficial em tempos muito mais curtos. Teodoro de
Portes de cartas (réis)
Cartas dobradas
Distâncias
carta
2
a 4
4
a 6
6
oitavas
(
léguas)
singela
oitavas
oitavas
a 1 onça
0-10
20
30
40
50
10-20
25
40
50
60
20-30
30
50
60
70
30-40
35
60
70
80
mais de 40
40
70
80
90
“
L’hotel des postes, la cour du transbordement, 1880, acervo iconográfico da FPC.