Página 39 - Códice nº2, ano 2005

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rem e lerem. Alega-se que D. João V
chamava os correios extraordinários
à Casa da Índia, procedendo aí à
aberturada correspondência.Por sua
vez, o poderoso ministro de D. José
recorreria, igualmente, ao método
de violação das cartas para obter
informações reservadas.Aliás,conta-
se que,José Sebastião de Carvalho e
Melo,por ser «tão zeloso de saber os
particulares», terá,umdia,manda-
do interceptar umestafeta ao cami-
nho subornando-o depois com um
jantar e licores. O autor deste escrito manifestava-se, entretanto,
defensor do processo por considerar que o conhecimento do conteú-
do das cartas constituía«a alma demanejar os negócios do Reino».
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A fase final do reinado de D. JoãoV,bemcomo os inícios de D. José não
foram fáceis para o titular do ofício do correio-mor por ter sido alvo
de críticas contundentes vindas de personalidades «ilustradas»que
defendiam a recuperação do ofício pela Coroa.
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José António da
Mata SousaCoutinhodefendeu comsucessoas suas prerrogativas con-
seguindo ainda um reforço do seu estatuto social. Comefeito,D. José
confirmou-lhe todos os seus direitos registados emdocumentos desa-
parecidos por ocasião do terramoto, concedendo-lhe,ainda,«todas
as honras e prerrogativas dos outros ofícios da Casa Real» e o título
de comendador da Ordem de Cristo.
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Agenerosidade régiaemrelaçãoao correio-mor compreende-se se tiver-
mos emcontaqueaestruturados correios continuavaa funcionar como
umsuportedaCoroaperanteas insuficiências daburocracia régia,como
decorre dos seguintes exemplos.
Para a elaboração do primeiro
Rotei-
roTerrestre
,
publicado em 1748, João
BaptistadeCastro recorreuao tenen-
te do correio-mor emexercício e a um
oficial antigo domesmo expediente,
que por sua vez, solicitaram aos cor-
reios assistentes informação sobre
os itinerários, facto que demonstra
que os oficiais dos correios erampes-
soas muito habilitadas para obter
informação sobre o território.
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Há que ter ainda ematenção que os
serviços do correioprestavamserviços
importantíssimos à Coroa, tanto no transporte da correspondência
oficial como das receitas decorrentes dos impostos, como era o caso
da sisa.O regimentogeral das sisas de 1752 incumbiuos correios de trans-
portarem o dinheiro resultante deste imposto, tendo-se decretado,
no ano seguinte,que 1%desses montantes revertia para eles.
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Aliás
na época pombalina, a Coroa reforçou os serviços do correio na capi-
tal, em especial na sequência do terramoto, através do aumento do
número de estafetas. Esta situação viria a traduzir-se numacréscimo
dedespesas paraa Fazenda régia,comoédenunciadonumdocumento
do tempo.
De notar no entanto que, emmeados do século XVIII, nem o correio-
mor nemos organismos da Coroa tinham informação sobre a rede de
correios implantada no território. Neste sentido, uma das perguntas
que foi feita aos párocos em 1758 tinha a seguinte formulação: «Se
[
a paróquia] tem correio, e em que dias da semana chega e parte; e,
se o não tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra aonde
elle chega? A informação enviada pelos curas referente a estamaté-