Página 14 - Códice nº2, ano 2005

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sos surtos epidémicos,como as febres palustres no reinado de D. San-
cho I em 1188, a peste bubónica, entre 1333 e 1423, e o tifo em 1465.
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A assistência
As instituições de assistência estão directamente ligadas ao culto
cristão das obras de misericórdia que todo o crente deveria exercer,
incentivado pela Igreja,sempre presente.Acentuaram-se nesta época
as acções de alimentar os pobres, tratar os doentes e albergar os
caminhantes, tentando suprir as carências de uma grande parte da
população.
As acções de assistência particulares
A assistência aos mais desfavorecidos praticada pelas classes abas-
tadas era feita emvida,ou através de cláusulas testamentárias,fun-
dandomosteiros,albergarias e hospitais,ou promovendo obras liga-
das à construção e desenvolvimento de vias de comunicação: empe-
drar caminhos, edificar pontes ou instituir barcas de passagem gra-
tuita nas vias fluviais consideradas na época obras de misericórdia.
Entre os séculos XII e XIV verifica-se um grande desenvolvimento
deste tipo de edificações no Norte e Centro do País, nomeadamen-
te as pontes nos rios Douro, Mondego, Ave e Vouga.
As barcas de passagem, «por amor de Deus», gratuitas, também
forammuito vulgares emMoledo e no Douro.
Os mosteiros
Por Portugal ter sido palco de constantes devastações militares, con-
quistando esforçadamente o seu território, coma ajuda quer de cru-
zados, quer das ordens militares, como os Templários,D. Afonso Hen-
riques eos seus sucessores tiveramnecessidadedeos compensar,doan-
do-lhes terras, que facilitaram a povoação de regiões fronteiriças,
dádivas de comida, os chamados «bodos», «fogaceiras»,
«
tabuleiros»,«festas de pão bento»,que eramusuais de Junho
a Outubro;
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osmagustos públicos,amatançadoporco,oNatal eaPáscoa,eram
também ocasião para a gratuitidade de alimentos.
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os funerais de pessoas abastadas incluíam sempre dádivas de ali-
mentos, para além de frequentemente as cláusulas dos testa-
mentos preverem doações alimentares .
Para se abrigar, o pobre recorria às instituições de assistência, como
mosteiros, albergarias e hospitais, que o acolhiam, estabelecendo
normalmente um máximo de três noites e duas refeições, a de che-
gada e a de saída.
Os limites de hospedagem verificados, denotam que os pedintes
deveriamser emgrande número,pelo que as instituições procuravam
delimitar a sua assistência.
A itinerância dos pobres tinha assimdois ritmos: o semanal,de porta
em porta e o periódico, em função das festas e romarias, transfor-
mando-os no mensageiro ideal para transmitir recados, ou os acon-
tecimentos das localidades vizinhas.
Os doentes
A lepra foi umdosmaiores flagelos da IdadeMédiaeuropeia,atingindo
tambémPortugal, uma vez que a presença de cruzados, guerreiros e
viandantes foi uma constante durante a reconquista.
Os leprosos eramobjectodegrandes discriminações,nãopodendo viver
nas povoações. Limitando-se amendigar junto às portas das vilas ou
cidades, ou a abrigarem-se em instituições próprias, as gafarias,
situadas junto de estradas. Como veremos pelo seu número,a popu-
lação atingida deveria ser grande.
Entreos séculos XII e XIV,as populações do reino foramvitímas dediver-
As obras de Misericórdia, Brueghel, o novo.