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Tratando-se de um antigo militar combatente na Guerra Peninsular
contra as tropas napoleónicas e ligado aos sistemas de transportes
e infra-estrutras de comunicações,nãoadmiraqueapretensãode John
Doyle fosse satisfeita pelo rei D. João VI. Por Decreto de 3 de Novem-
bro dessemesmo ano,era-lhe concedido o privilégio da exploração da
carreirapor catorzeanos,comcontrapartidade seobrigar a transportar,
gratuitamente, o correio até duas arrobas. As correspondências que
ultrapassassemeste peso seriam transportadasmediante umpaga-
mento suplementar de trezentos réis por arroba.
No século passado,as Caldas da Rainha eramuma estação termal de
nomeada, pela qualidade terapêutica das suas águas, para onde se
deslocavammuitas personalidades emembros da nobreza,para tra-
tamentos ou para repousar.
Como também a família real frequentava esta vila, o cidadão inglês
teve a ideia de estabelecer um esquema de transporte entre as ter-
mas eVila Nova da Rainha,pequena localidade situada nas margens
do Tejo, que permitia uma fácil ligação à capital por barco a vapor.
Porém, se esta carreira durante o Verão podia funcionar com um
número razoável de passageiros, o que lhe conferia viabilidade eco-
nómica, o mesmo não acontecia o resto do ano. Desde logo, os pro-
blemas surgiram e a sua inauguração teve lugar em Junho de 1826,
ummês depois doprevisto inicialmente.Emboranão se saiba,comtoda
a certeza, pensa-se que a carreira não terá ultrapassado Setembro,
dadoqueadocumentaçãoexistentenada refereparaalémdestemês.
A viagem tinha uma duração prevista de três horas emeia na ligação
de barco entre Lisboa e Vila Nova da Rainha e mais seis horas, desde
esta localidade até às Caldas.
Dada a escassez de documentação, não é absolutamente seguro
que esta carreira fosse a que havia sido concessionada a John Doyle,
já que em parte alguma é referido o seu nome.
vários
Districtos Postaes
da cidade de Lisboa,para a sua recepção com
a máxima segurança.
Tambéma segunda tentativa de estabelecimento do Serviço daMala-
Posta pode considerar-se uma resposta às necessidades de uma
sociedade emmudança.
Continuando a persistir o velho problema das más condições das
estradas, que já foi referido anteriormente, tornavam-se pouco pro-
pícios ao sucesso os esforços que se viessem a desenvolver, no
sentido da implantação de serviços de transportes terrestres.
No entanto e, apesar dessa constatação, não deixou de ser encara-
daahipótese de estabelecer carreiras regulares deMala-Posta,já que
no entender dos seus impulsionadores poderiam funcionar como ala-
vancas fundamentais do desenvolvimento do país.
Assim,de formamuitobreve,dadoa importância relativaea curtadura-
ção que tiveram, serão referidas as duas ligações da Mala-Posta
deste período: Carreira Vila Nova da Raínha/Caldas da Raínha e Car-
reira Aldeia Galega/Badajoz.
Carreira Vila Nova da Raínha/Caldas da Raínha
(1826-1827)
Foi graças aoesforçodo cidadão inglês JohnMilleyDoyle,que viviaentre
nós, que surge esta tentativa de pôr em funcionamento a Mala-
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Posta, em 1825, para ligar Vila Nova da Rainha às Caldas da Rainha.
Segundo Artur Teodoro deMatos,na sua tese de doutoramento, terá
sidoaeste súbditobritânicoque sedevea construçãodaprimeiraestra-
da«macadamizadaemPortugal».Comefeito,a técnicade construção
de estradas desenvolvida pelo engenheiro escocês Mac Adam, que
viria a revolucionar a qualidade dos pisos viários,foi aplicada,pela pri-
meira vez,por JohnDoyle,naestradado ladonascentedoCampoGran-
de em Lisboa, no ano de 1824.
Gravura de Estação de Muda. edifício adaptado a esta função, in revista «O Occidente».