No final do século XIX, com a invenção do telefone, surgem as primeiras experiências de escutas.
Com o passar do tempo e acompanhando as evoluções tecnológicas do aparelho, os sistemas de escutas foram ficando cada vez mais sofisticados na captação das chamadas e na capacidade de ocultação das escutas.
Durante o período do Estado Novo, as escutas ganham especial importância com a criação da polícia política que delas dependia para muitas das suas operações, envoltas em grande secretismo.
Uma parte da explicação de como funcionavam as escutas e de que forma os correios e as telecomunicações se encontravam condicionados nessa época é agora publicada no livro de Alfredo Caldeira e António Possidónio Roberto “Os Telefones têm Ouvidos”.
Para realizar este estudo os autores consultaram mais de 500 processos de escutas telefónicas, realizadas nos últimos 10 anos da ditadura (1964-1974).
Funcionários do PCP, personalidades do regime, representações diplomáticas, católicos progressistas, o movimento estudantil, entre outras figuras foram escutados, não só sobre a sua atividade política, como também sobre a reputação profissional, o ambiente familiar, a permeabilidade à corrupção ou até na busca de alguma situação amorosa.
O sistema da interceção telefónica era muito bem organizado pela PIDE, que tinha o poder para transcrever as escutas e fazer observações, que posteriormente eram levadas aos superiores e ao Presidente do Conselho.
A Fundação Portuguesa das Comunicações contribuiu para a concretização deste projeto, abrindo as portas do seu arquivo histórico para a pesquisa, avaliação e expurgo de documentação que testemunhasse o relacionamento entre a PIDE/DGS e a Direção Geral de Correios Telégrafos e Telefones, e mais tarde com os CTT, TLP e CPRM.
O estudo desta documentação permitiu entender como era feita a censura de correspondência e a interceção de telefones militares e de centrais telefónicas.