Inauguração da rede telegráfica elétrica em Portugal

A data 16 de setembro de 1855 marca um dos momentos mais relevantes da história das Telecomunicações em Portugal, a inauguração da rede telegráfica elétrica.

As dificuldades existentes na telegrafia visual, como a morosidade na transmissão das mensagens e a sua dependência das condições meteorológicas eram limitações graves que precisavam de ser ultrapassadas.

Foi então que se deu a descoberta da utilização da eletricidade nos sistemas de comunicações, provocando uma revolução na comunicação à distância, preconizada no século XIX.

A telegrafia elétrica, inventada por Samuel Morse, foi a primeira destas evoluções, ao possibilitar a transmissão e receção instantâneas de mensagens escritas, a longa distância. O sistema funcionava com base no aproveitamento de uma infraestrutura de cabos elétricos aéreos, subterrâneos ou submarinos.

Esta tecnologia foi a que mais tempo se utilizou nas comunicações, ultrapassando os 150 anos de atividade nas ligações entre os vários continentes.

Em Portugal, a introdução da telegrafia a partir da segunda metade do século XIX, só foi possível graças à política de desenvolvimento das comunicações desencadeada por Fontes Pereira de Melo, ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria.

Houve então um forte empenho do poder político no desenvolvimento deste serviço, o qual foi fundamental na grande revolução dos transportes e comunicações, iniciada em 1852 no nosso país.

Em abril de 1855, o Governo português celebrou um contrato com a empresa francesa Bréguet para regulamentar a instalação das primeiras linhas telegráficas no país.

A 16 de setembro, concretizou-se o primeiro troço de linhas telegráficas, com cerca de 25 km que ligava em Lisboa, o Terreiro do Paço, as Cortes e o Palácio das Necessidades, e servia também para contactar Sintra.

Curiosamente, este grande acontecimento com relevantes impactos no sistema de comunicações e na economia do país passou quase despercebido nos média, tendo merecido apenas uma alusão no Jornal do Comércio.

Uma das razões para esta indiferença dos jornais em relação a este grande avanço comunicacional pode ter sido a coincidência da data com o dia da coroação do jovem rei D. Pedro V, em quem os portugueses depositavam grandes esperanças.

Outro motivo pode estar relacionado com o secretismo das Forças Armadas, já que a telegrafia entrava em Portugal, à semelhança do que sucedia em outros países, pelas mãos dos militares. Há ainda uma terceira justificação, é que na altura, as necessidades de comunicação dos portugueses eram plenamente respondidas pelos serviços de correios.

A realidade foi que o aumento de linhas telegráficas em Portugal foi acontecendo de uma forma célere, passando de 32 km de linhas telegráficas existentes em 1855, para 677 km um ano mais tarde e para 1571 km no final de 1857.

Até finais de 1863, a cobertura telegráfica foi grandemente expandida, chegando até Espanha.

Ao longo dos anos, este serviço era usado em exclusivo pelo Estado, não havendo assim necessidade de existirem taxas telegráficas. Só muito excecionalmente o público poderia recorrer a este serviço, em troco de recompensas generosas aos telegrafistas.

A Mesa Telegráfica Bréguet, utilizada na inauguração da rede telegráfica elétrica em Portugal, bem como um núcleo dedicado à Telegrafia, podem ser visitados na exposição permanente do Museu das Comunicações “Vencer a Distância – Cinco Séculos de Comunicações em Portugal”.