Dia Mundial da Dislexia

Assinalou-se ontem o Dia Mundial dos Correios. Na sessão institucional que decorreu ontem na Fundação Portuguesa das Comunicações, foram entregues os prémios do concurso “A melhor Carta – 2019”.
Este concurso, dinamizado pela Fundação Portuguesa das Comunicações e pelos CTT Correios de Portugal, lançava mais uma vez o desafio aos jovens (entre os 9 e os 15 anos) de escreverem uma carta, desta vez subordinada ao tema “Escreve uma carta sobre um dos teus heróis”. Recebemos muitas participações e o júri teve dificuldade em eleger as 6 vencedoras (3 por cada escalão etário).

 

O grande vencedor foi o Gabriel Grades, da escola Básica Padre Joaquim Maria Fernandes, pertencente ao Agrupamento de Escolas de Sousel, que ficou em primeiro lugar do escalão 9/11 anos e que, juntamente com os pais, veio ontem à Fundação Portuguesa das Comunicações, receber os seus prémios – um Smartphone e um Tablet Samsung oferecido pela Fundação Portuguesa das Comunicações e pela Altice Portugal.

 

A carta do Gabriel destacava-se das restantes por ter escolhido um herói diferente. Destacava-se das restantes por descrever um herói de superação pessoal. Um herói imperfeito e, por isso, mais poderoso.

 

Mas, o que tem tudo isto a ver com o Dia Mundial da Dislexia? O herói do Gabriel é disléxico. O herói do Gabriel, é o Gabriel.

 

Convidamo-vos a ler a carta do Gabriel Grades, grande vencedora do concurso “A melhor carta – 2019”, e a comoverem-se com a coragem deste pequeno grande herói.

 

“Minha folha de papel, sem dia, sem mês, sem ano.

Queridos leitores,

Chegou o momento de, nesta folha de papel, falar sobre o meu sentimento… Um sentimento, que se envolve no pensamento, acerca de heróis, acerca do que é ser um herói que vence, que luta e que ganha (nem sempre)!

Podia escolher um super-herói qualquer, desses que dão na televisão, que provocam tanta emoção! Mas esses, apesar de causarem tanta sensação, são só ficção; não passam de imaginação!

O meu herói é real!

O meu herói é de verdade e vive aqui, bem nesta localidade!

O meu herói é de carne e osso; é um rapazote de tenra idade!

O meu herói não bate, não briga… mas luta! E que lutas ele trava!

Cada luta é fenomenal!

Cada batalha é exigente! A mãe diz que é de pessoa inteligente!

O meu herói tem dislexia!

Há quem pense que falar lhe provoca asfixia! Há quem não compreenda… como a sua luta é tremenda!

Luta com as letras a cada dia… Combate dificuldades nas palavras lidas, escritas ou faladas, desde sempre, desde que se lembra!

Combate e vence! Às vezes, são grandes vitórias, às vezes pequenas! Às vezes, falha… não consegue! Mas, herói não desiste!

Herói persiste (às vezes sofre!) e, luta mais uma vez e mais outras! E, vai vencendo e os seus receios vão desaparecendo e a magia vai acontecendo!

Não são feitos sensacionais, mas causam verdadeira sensação, pois não são de imaginação, são feitos com “alma e coração”!

São feitos de verdade e sinto que este herói não encontra nesses feitos só a sua felicidade! A família e os professores têm com ele grande cumplicidade!

Para este herói… o Herói da Dislexia, palavras são vitória! Frases são glória!

Quem é este herói?! Este herói, sou eu!

Sim, tenho dificuldades! Falar, às vezes, é complicado; há momentos em que me sinto desanimado!

Transmitir o meu pensamento nem sempre é tarefa fácil! Mas faço um esforço e, sou vencedor, a cada momento!

O meu super-herói?! Sou eu!

Se tenho super-poderes?! Sei que sim! O pai e a mãe ajudaram-me a acreditar em mim!

A minha vitória? As palavras!

O meu super-poder? A vontade.

Por isso, a todos os meninos como eu, deixo esta mensagem; a mensagem de um herói de verdade, que aprendeu a não desistir e a enfrentar cada dificuldade…

Os super-heróis não revelam os seus segredos, têm os seus mistérios. Mas eu, super-herói da realidade, achei esta oportunidade para ajudar meninos como eu… Dizer-lhes que com vontade, com muita vontade, nós conseguimos, nós ganhamos esta batalha.

Vamos, pouco a pouco, encontrando a felicidade das palavras!

Este foi um desses momentos, esta foi uma das minhas grandes glórias. Consegui! Fiz! Posso ter perguntado ao pai, à mãe ou até à professora se esta ou aquela palavra se escrevia com “t” ou com “d”, com “g” ou com “c”, mas consegui!

Esta carta é minha e fui eu quem a fez!

Isto são vitórias que só outros “heróis da dislexia” entendem! Esta é a nossa alegria!

Um abraço a todos, especialmente, aos meninos que têm “poderes especiais” como eu!


Herói da Dislexia


P.S.
Com dislexia, sou diferente, sou mais persistente!
Com dislexia, não sou “normal”! Sou especial! Super-especial!”