Como comunicavam os militares portugueses em tempos de guerra?

Na I Guerra Mundial as autoridades militares portuguesas criaram o Serviço Postal de Campanha para apoiar o contingente do Corpo Expedicionário Português (CEP) em França-Flandres. Constituído por 48 funcionários da Direção Geral dos Correios e Telégrafos, mobilizados e militarizados, todos voluntários, equiparados a tenentes ou alferes tiveram de apressadamente se “fazer” e ser militar.

Este serviço geria a correspondência oficial e particular, recebida e enviada pelas cerca de 55 mil tropas portuguesas aí deslocadas, e era da responsabilidade do quadro superior da Direção Geral, Engenheiro Humberto da Cunha Serrão, graduado no posto de Capitão. As adversidades foram várias, desde logo os mais de 2.000 quilómetros de distância de Portugal até ao local do conflito.

Apurados os números, entre 1917 e 18, movimentaram-se, por via terrestre, mais de 30 milhões de objetos postais (correspondência ordinária, registada e encomendas), sob o cumprimento de acordos estabelecidos entre Portugal e a Administração Francesa dos Correios e Telégrafos.

A presença deste serviço de correio no teatro de guerra foi vital para o sucesso das operações militares, que muito dependiam da manutenção da motivação das tropas,  inseparável da receção e envio de notícias vindas de casa e enviadas para a família.

O reconhecimento oficial da atuação dos profissionais dos Correios e Telégrafos que integraram o Serviço Postal de Campanha recebeu um louvor coletivo, publicado na Ordem de Serviço nº168, de 26 de novembro de 1919.

No Património Filatélico da Fundação, existem peças que acompanharam o serviço postal na guerra, e que por si só são um precioso testemunho daquele serviço.

Bastante mais tarde, com a Guerra Colonial, entre 1961, início do conflito em Angola, e 1981, o seu fim, o Serviço Postal Militar foi reativado. Os CTT cederam ao Exército um elevado número de funcionários para organizar a entrega de correspondência, pessoal maior (primeiros e segundos oficiais, que foram graduados em alferes) e pessoal menor (carteiros e auxiliares de tráfego, graduados em sargentos).

Nas principais cidades e unidades militares dos territórios do Ultramar, abriram-se estações postais militares, e postos militares de correios nas cidades mais pequenas. Tratavam todo o tipo de correio: oficial, normal, registos, etc. Calcula-se que o volume médio de correio mensal era de dez toneladas.

Criaram-se códigos para os endereços das várias unidades das Forças Armadas – os Indicativos Postais (IP), à sigla “SPM” juntavam-se quatro dígitos (os três primeiros correspondiam à unidade militar e o último ao território ultramarino do destino), para acautelar a segurança.

A correspondência mais utilizada entre os militares e os seus familiares eram os aerogramas, editados pelo Movimento Nacional Feminino que os distribuía gratuitamente aos militares em África e os disponibilizava à população, no Continente, por 20 centavos.

Eram isentos de taxa, pois o transporte do correio para os militares era feito gratuitamente pela TAP. O transporte era também assegurado por paquetes da navegação comercial.

Nesta época, surge, igualmente, o equipamento fonopostal, utilizado para gravação de músicas e mensagens, como as saudações da Páscoa, Natal e outras. Eram produzidos em discos fonopostais, na estação dos Restauradores, em Lisboa, e na estação de São Bento, no Porto.  Mais um meio utilizado para colmatar as difíceis saudades com os familiares ausentes.

Estes, e outros equipamentos relacionados com o serviço postal militar, podem ser visitados na exposição “Do Cabo Zero à Liberdade”.

Conheça também o testemunho de dois funcionários dos Correios que trabalharam no serviço postal militar no final da década de 70 do século XX.

Para obter mais informações sobre este tema consulte o livro “O Correio entre Fronteiras e Trincheiras”.