O filme Cândido – O Espião que veio do Futebol, de Jorge Paixão da Costa, remete-nos para a história de Cândido de Oliveira (1896 – 1958), uma vida multifacetada e intrinsecamente ligada às comunicações.
O seu legado de jogador de futebol, selecionador nacional, jornalista desportivo é acompanhado por uma carreira nos correios. Em 1915, entrou para os CTT com apenas 19 anos, como praticante, o equivalente a um estagiário. Os conhecimentos técnicos e a rede de contactos que foi habilmente adquirindo, permitiram-lhe exercer diversos cargos de chefia que o levaram até ao cargo de Inspetor dos Correios, Telégrafos e Telefones, Chefe de Serviço de Exploração de 1ª classe.
A sua carreira nos correios é bem visível na recriação histórica da estação de telegrafia apresentada no filme Cândido, onde estão presentes inúmeras peças do património postal e de telecomunicações da Fundação Portuguesa das Comunicações.
Com a I Guerra Mundial, o crescimento acentuado que se vivia no setor das comunicações foi assombrado pela crise económica que trouxe instabilidade social e dificuldades na importação de equipamentos. A subida do custo de vida atingiu toda população, e os funcionários dos correios e telégrafos, não foram exceção. Se até aí não tinham exigido aumentos salariais, agora viam-se forçados a protestar.
Cândido de Oliveira, descreve em “A História da Primeira Greve Telégrafo-Postal”, os acontecimentos vividos com os seus camaradas na Central Telegráfica de Lisboa. Em abril de 1917, Cândido, então 3º oficial dirigiu ao presidente da Assembleia Geral da Associação de Classe do Pessoal Maior um documento com as exigências dos trabalhadores, o primeiro, que tornaria possível a primeira greve no setor. Passados dois meses, não havia ainda resposta do Administrador Geral e do Ministro do Trabalho, e a situação no trabalho telégrafo-postal agravava-se. O crescente desespero dos funcionários culminou numa ação de conspiração entre companheiros de centrais do correio e do telégrafo, que se juntavam secretamente, numa organização associativa.
A primeira greve telégrafo-postal foi anunciada no jornal “O Telégrafo”. Para além desta publicação, Cândido de Oliveira escreveu para muitas outras. Fundou a revista Football. Como jornalista desportivo, foi um inovador da crónica e da reportagem, que utilizou para criticar o Estado Novo nas políticas para o desporto. As atividades de “homem do futebol” e de jornalista permitiram-lhe uma grande amplitude de circulação dentro e fora de Portugal, sem levantar suspeitas.
Durante a II Guerra Mundial, tornou-se espião para uma organização inglesa, sendo um dos responsáveis pela montagem de uma rede secreta alternativa de rádio – telegrafistas e pela organização de grupos de resistência que pretendiam impedir a invasão de Portugal pela Alemanha. Em 1942, foi detido pela PIDE e enviado para o Tarrafal. Mesmo durante a prisão, a rede secreta de radiotelegrafistas manteve-se ativa.
Em 1945, já com a elevada função de Inspetor Superior dos Correios de Lisboa, foi demitido da Administração dos Correios. Foi nessa altura que fundou o jornal A Bola.
A Fundação Portuguesa das Comunicações guarda no seu Arquivo Histórico documentação sobre Cândido de Oliveira, e através das suas exposições mostra o património postal e de telecomunicações usado naquele período, 1896-1958.
A visita à exposição temporária Do Cabo Zero à Liberdade, permite entender como era feito o controlo das telecomunicações e dos serviços de correios pelo regime do Estado Novo. Testemunhos históricos de um período que vai de 1933 a 1994.