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Se esta peça falasse mês junho 2017
1 Junho 2017 - 30 Junho 2017
Se esta peça falasse mês junho 2017
Telefone de Parede “Edison Gower Bell”
Telefone de corrente contínua e chamada por botão, possuindo na parte superior, o microfone constituído por uma membrana fina de madeira flexível, que transmitia as vibrações vocais ao electroíman, situado no interior da caixa. Para falar, bastava o utente aproximar-se “da lâmina vibrante”. Os auscultadores encontram-se nas extremidades de dois tubos forrados a tecido. Quando na posição de descanso, os auscultadores ficavam suspensos de dois suportes colocados nas faces laterais da caixa do microfone.
Este telefone foi o primeiro a ser utilizado nas residências dos utentes das primeiras redes públicas de Lisboa e Porto, em 1882. Estas redes públicas surgiram com uma Carta de Lei, de 5 de Fevereiro de 1881, que visava a abertura das redes telefónicas públicas, em primeiro lugar, em Lisboa e no Porto, e em seguida noutras cidades do reino.
A 26 de Abril de 1882 realizava-se a inauguração oficial da rede de Lisboa, nos escritórios da empresa “Edison Gower Bell. A promoção de um concerto executado na sala de experiências da Rua do Alecrim foi o ponto alto da cerimónia, com som vindo por quatro fios até à central da Rua Larga de S. Roque e transmitida para os escritórios, à Rua Nova do Carmo, onde era apreciado em cerca de 20 a 30 telefones. Entre a música tocada, ouviu-se o hino do rei D. Luís, “com os tubos dos receptores colados aos ouvidos e debruçados sobre as lâminas metálicas, oferecendo um estranho aspecto de misteriosos bichos cujas orelhas se tivessem prolongado”.
Da primeira Lista Telefónica constavam 22 assinantes, a 19 de Maio de 1882. No entanto, 15 dias depois, já se encontravam registados 35 assinantes. Na cidade do Porto a instalação das redes chegou no dia 1 de Junho de 1882.
Apesar de todos os esforços , o ano de 1882, foi de prejuízo para a Edison Gower Bell, devido ao elevado tarifário imposto. Com a revisão dos preços praticados, o próprio rei D.Luís deu o exemplo e ficou com um telefone ligado à rede, tornando-se no primeiro monarca a ter o telefone ligado à rede pública.
Do nosso Rei D. Luís, conta-se um curioso episódio, registado pela imprensa de 1884. Enlutado pela morte de um elemento da sua família, o monarca não pôde assistir à estreia da ópera “Laureana”, do maestro Augusto Machado. Ao instalar entre o Teatro de S. Carlos e o Palácio da Ajuda uma linha especial para o efeito, a companhia de telefones permitiu a D. Luís a audição da obra musical. Pela eficácia da audição e, muito provavelmente, pela novidade, o rei ficou grato ao gerente da “Edison Gower Bell” que instalou tão providencial linha e atribuiu-lhe a ordem militar de Cristo. E, após essa experiência de sucesso, a empresa que dirigia o teatro de S. Carlos anunciou, em Outubro de 1885, “assinaturas telefónicas para a temporada da ópera”.
Uma das finalidades inicial do telefone – transmitir música – surtiu, então um efeito de encantamento junto da população de Lisboa, preparando o sucesso das audições telefónicas de óperas e récitas musicais. Antecipando a rádio, aqui como em diversos países europeus, pelo telefone propagaram-se concertos. Com este equipamento a Edison Gower Bell, concessionária das redes públicas de Lisboa e Porto, alugava circuitos, durante a temporada da ópera, para se ouvir as transmissões do Teatro S. Carlos.